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Roberto Carlos aproveita show nos Estados Unidos para gravar seu primeiro DVD em espanhol. |
Miami – Ao vencedor, as batatas. Quentes. Roberto Carlos venceu a parada ao levar a melhor na Justiça e conseguir o recolhimento de sua biografia não-autorizada, Roberto Carlos em Detalhes (Editora Planeta), de Paulo César Araújo. Mas o cantor sabe que agora tem um desafio duplo pela frente: sair da pele de vilão em que se enfiou (grande parte da intelectualidade brasileira condenou publicamente seu gesto, gente como o escritor Paulo Coelho e o cantor Caetano Veloso) e, ao mesmo tempo, dar um fim ao lote de 11 mil livros que amealhou e guarda num galpão em São Bernardo do Campo (SP).
Roberto parece saborear uma vitória amarga, embora se escore na legalidade de seu ato para rebater as críticas, como as de Paulo Coelho, que disse que o autor teve uma ?atitude infantil? ao processar seu biógrafo. ?Eu acho que foi feito tudo nos princípios da lei, daquilo que a Constituição diz, aquilo que a lei me dá direito, a mim e ao cidadão brasileiro. Antes de fazer qualquer coisa, antes de tomar qualquer atitude, consultei que direitos eu tinha para tomar a decisão que tomei. E a conclusão, através dos meus advogados, é que eu tenho direito, como todo cidadão tem direito, de proteger sua privacidade. E foi isso que nós fizemos. De acordo com a lei e com o que a Constituição diz?, respondeu Roberto Carlos.
Roberto chegou no fim de semana a Miami para o que será o seu primeiro show nos Estados Unidos em quase dez anos. Os cerca de 5 mil ingressos postos à venda para os dois concertos, hoje e amanhã, no Carnival Center, foram vendidos em pouco mais de 24 horas. No show será gravado o primeiro DVD em espanhol do cantor brasileiro. Sua entrevista coletiva, ontem, num hotel de Miami, foi concorrida: muitas TVs e jornais que destacam o mundo das celebridades latinas, como Escándalo e Paparazzi TV; executivos da gravadora; o staff inteiro do cantor; e até o antigo ?casal telejornal? da TV Globo, Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, estavam lá.
?Lembra de mim? Pois é, a última vez que a gente conversou foi em 1998?, anunciou-se Leila Cordeiro, que se disse representante dos brasileiros. ?Você sabe que a comunidade brasileira aqui, nos Estados Unidos, é enorme e está todo mundo morrendo de saudade de você.? Era esse o clima: chistes e aplausos reiterados a cada declaração do músico.
Roberto fez piadas com os repórteres. ?Fale um pouco mais devagar, porque até em português não estou te entendendo?, disse para uma jornalista. Para outra, que confessou ter a mesma mania de nunca sair por porta diferente da que entrou, ele aconselhou: ?Sugiro que comece imediatamente uma terapia.? O músico também explicou a demora em vir aos Estados Unidos. ?Eu estava muito mal, sangrava muito. Não queria chegar aqui com as feridas abertas?, disse.
O empresário do cantor, Dody Sirena, anunciou que Roberto, talvez no segundo semestre, inicie uma turnê pela América Latina após o lançamento do DVD em espanhol, passando por Argentina, Chile e México. ?Estou muito nervoso, depois de tantos anos fazer um projeto como este. Quando entro no palco, esse nervoso passa. Sobretudo aqui, vou me sentir como se estivesse em casa. É algo que me acalma.?
O cantor falou também, com grande desenvoltura (quase sempre em espanhol), sobre seus problemas com obsessões compulsivas, o fato de vestir sempre azul, de não cantar jamais determinadas canções. ?Eu queria que fossem realmente manias, porque seria muito mais fácil. Pensei durante muitos anos que fosse muito supersticioso. Depois que me inteirei do que realmente tinha, que é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), cheguei à conclusão de que não sou tão supersticioso. O TOC é que é muito grande. Superstição é uma coisa muito tranqüila?, disse. ?Algumas coisas hoje eu faço com menos dificuldade. Se tiver de entrar por uma porta e sair por outra, é sempre muito difícil. Mas se não há outro jeito.? E anunciou: ?Brevemente estarei curado.?
?Invasão de privacidade?
Miami (AE) – Durante a entrevista concedida em Miami, o cantor Roberto Carlos, chamado carinhosamente de ?rei? pelos fãs brasileiros, descartou completamente a possibilidade de autorizar uma nova edição de Roberto Carlos em Detalhes sem as partes que o incomodaram, que se recusa a apontar – diz que se trata apenas de ?invasão de privacidade?. Segundo Roberto, se ele apontasse os trechos do livro que contém incorreções de informação, aí, sim, estaria cometendo um ato de censura. ?O livro não saiu de circulação por uma ação policial, mas por um acordo entre as partes. Nada foi imposto. Eu estava dentro dos meus direitos?, afirmou.
E voltou a dizer que sua biografia oficial será a única que poderá ser escrita a respeito de sua vida, mas que não tem prazo nem previsão de concluí-la – para a tarefa, a que diz se dedicar há 15 anos, o cantor tem a ajuda do jornalista Okky de Souza.
Roberto repetiu como um mantra sua obstinação em defender sua privacidade, falando várias vezes em Constituição. O cantor diz que não forçou ninguém a fazer algo contra sua vontade. ?Andam dizendo que eu iria queimar os livros. Não sei de onde tiraram isso, porque nunca pretendi queimar os livros. Na verdade, não sei exatamente o que fazer, porque queimar não pretendo. Porque seria muito agressivo isso e não é do meu estilo fazer coisas tão drásticas. Temos dois caminhos, na realidade: guardar para sempre em um lugar ou reciclá-los. Também não sei exatamente o que fazer. Estou pensando se poderia haver uma outra opção, não sei exatamente. Vou pensar muito bem no que fazer.?
Na volta ao Brasil, Roberto fará shows de 28 a 30 de junho, no Citibank Hall, no Rio de Janeiro.