Um dos nomes de destaque do Jornalismo da TV Globo, Maria Júlia Coutinho, apelidada de Maju pelos colegas, foi a vítima da vez de comentários racistas nas redes sociais. A resposta ao ataque foi dada pela própria jornalista, na última sexta-feira, em horário nobre, em pleno Jornal Nacional, onde ela tem ganhado projeção e elogios como ‘garota do tempo’ – por dar tom mais informal ao tradicional telejornal da casa. Maju já teve passagens por outros telejornais, como SPTV.
“Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores, mas na verdade é o seguinte, gente: eu já lido com essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, fico triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que eu acho que é isso que é o mais importante. Eu cresci numa família muito consciente, de pais militantes, que sempre me orientaram. Eu sei dos meus direitos. Acho importante, claro, essas medidas legais serem tomadas, até para evitar novos ataques a mim e a outras pessoas”, pronunciou-se ela, em rede nacional. “E, pra finalizar, (William) Bonner e Renata (Vasconcellos), é o seguinte: os preconceituosos ladram, mas a caravana passa. É isso.”
O discurso é tido como histórico. Afinal, a emissora abriu espaço para que sua funcionária, atacada e exposta em praça pública (digital), pudesse se defender e, mais do que isso, se posicionar. A própria Globo também se posicionou, quando a equipe do JN lançou a campanha #somostodosmaju. O caso gerou uma grande repercussão na internet.
Por coincidência, antes dos ataques racistas à jornalista no Facebook do JN, o tema já vinha sendo tratado – apesar que timidamente – pela mesma vitrine, só que no âmbito da ficção. Recentemente, na novela das 9, Babilônia, a personagem Júlia, vivida pela garota Sabrina Nonata, conta, entristecida, para a mãe, Regina (Camila Pitanga), e para a avó, Dora (Virginia Rosa), que sofreu preconceito na escola.
“Uma menina ficou implicando na escola, ela disse que meu cabelo era ruim”, afirma a menina. “Filha, seu cabelo é lindo. Essa menina aí, sabe o que ela sente de você? Inveja”, rebate a mãe. “Se liga, mãe, ela ia ter inveja de mim por que? O cabelo dela é liso”, continua Júlia. “Porque, filha, isso que você falou é uma história que começou muito tempo atrás, uma história comprida”, diz Regina. “E o que acontece nessa história?”, pergunta a menina. “Muita luta, minha filha, tanta que hoje tem até uma lei contra essas besteiras de gente que fala mal do nosso cabelo, da nossa cor de pele.”
Já em I Love Paraisópolis, folhetim das 7, a atriz Lucy Ramos vive a psicóloga Patrícia, que é negra. Ao se deparar com ela na sala de sua empresa, o vilão Gabo (Henri Castelli) acha que a moça, julgada por sua cor de pele, é a copeira e pede, de forma ríspida, que ela lhe sirva um café. Ele tenta consertar a situação quando percebe o engano. “É claro que se eu tivesse reparado direito no seu porte, na sua beleza, não teria falado uma coisa dessas. Nem de longe você parece uma copeira”, dispara ele. “Não acho demérito nenhum ser copeira. Por acaso, sou psicóloga”, diz Patrícia.
Representação
Apesar das abordagens, há quem ainda considere o assunto um ‘calcanhar de aquiles’ na TV brasileira. I Love Paraisópolis chegou a ser criticada por ter um elenco reduzido de negros, numa trama que tem como cenário a comunidade de baixa renda, com mais da metade dos habitantes formada por negros. Em Babilônia, Camila Pitanga é uma das protagonistas e moradora do morro. Sheron Menezes, também negra, amiga da personagem de Camila, faz a advogada ambiciosa e em ascensão. Em Insensato Coração, de 2011, Lázaro Ramos já havia feito o bem-sucedido designer André e, em 2004, Taís Araújo fora a protagonista de Da Cor do Pecado. Mas a representação dos negros na TV e seu espaço ocupado nela ainda inspiram debates.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.