‘O Que Traz Boas Novas’ aborda a pedagogia do afeto

Filmes de escola têm pelo menos duplo interesse. Escolas são universos interessantes em si mesmos. Além disso, podem funcionar como microcosmos da sociedade como um todo. São, também, espaços privilegiados de conflitos, já que servem de palco para uma fase crucial na socialização das pessoas. Daí o sucesso permanente de títulos como o antigo Ao Mestre, com Carinho e do muito mais recente Entre os Muros da Escola.

O diretor de O que Traz Boas Novas, Philippe Falardeau, pode se gabar de ser muito original em sua abordagem desse universo. Situa-se no Canadá francês, o Quebec, um dos modelos de civilidade do mundo. Mesmo lá, tragédias acontecem, e uma professora, Martine, aparece morta de modo inesperado, e em plena sala de aula.

Dadas as circunstâncias, ninguém quer substituir a mestra. A classe, compreensivelmente, está traumatizada; é mais que um luto e existem outros sentimentos dos alunos em relação à professora desaparecida.

Então aparece um candidato à vaga, um argelino, Monsieur Bachir Lazhard (Mohamed Fellag, ótimo). Surge com um belo currículo, mas, como se verá, ele também não é um professor convencional. Não está no Canadá apenas para melhorar de vida e, como mestre, tem lá seus procedimentos pouco usuais na época da nova pedagogia. O que dizer de um professor que reintroduz noções básicas de disciplina, adota Balzac como texto de ditado e manda colocar as carteiras em linha reta e não mais no círculo democrático em que estavam dispostas?

Lazhard pode parecer um conservador e mesmo um reacionário em meio a novos métodos educacionais. No entanto, ele tem seus trunfos: coloca o interesse dos alunos acima de tudo, dá-lhes uma referência e, heresia, faz com que a garotada se abra e fale sobre aquilo que a escola inteira prefere calar – a morte da professora.

O QUE TRAZ BOAS NOVAS – Título original: Monsieur Lazhar. Direção: Philippe Falardeau. Gênero: Drama (Canadá/2011, 94 min.). Classificação: 14 anos.

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