O poeta de Tamandaré

“O poeta nasce no poema, inventa-se em palavras”.

Helena Kolody

Encontro-o, sempre às terças-feiras, no Centro de Letras do Paraná, trazendo às mãos, geralmente, um soneto recém-elaborado.

Nascido na Vila Tamandaré, hoje cidade, município e comarca de Almirante Tamandaré, lá desfruta de merecida aposentadoria no serviço público estadual, compondo os seus encantadores versos.

Túlio Vargas, o admirável historiador, assim escreve no opúsculo da Academia Paranaense de Letras, a respeito de Harley Clóvis Stocchero, “O poeta de Tamandaré”: “Possui formação artística, diplomado que foi em Desenho e Artes Plásticas pela Escola de Música e Belas Artes Santa Cecília de Curitiba. Participou também de cursos de gravuras (xilogravura e linóleo) junto ao Solar do Barão da Fundação Cultural. No campo literário, embora com antecedentes criativos na revista Tingüi, produção de contos, estudo histórico e premiação em concurso na cidade de Apucarana, somente em 1983 passou a se dedicar mais intensamente à atividade cultural, após obter láurea em concurso promovido pela Academia de Letras José de Alencar. Exerceu a presidência do Centro de Letras do Paraná no período 1986-87 e é membro da Sala do Poeta, União Brasileira de Trovadores e Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. Foi eleito em 1995 para a Academia Sul-Brasileira de Letras do Rio Grande do Sul, com sede na cidade de Pelotas. Oito livros publicados e uma vasta coleção de diplomas e condecorações.

Consta de sua bibliografia: Ermida pobre, Os dois mundos, O pouso dos guaraipos, Recorda-ções de Clevelândia, Andanças na Terra Tingüi, Seleções poéticas e novas cantigas.

Por evidente, Harley Stocchero é “imortal”, da renomada Academia Paranaense de Letras.

Geralmente encima seus poemas com máximas de personalidades famosas.

Tempos antigos é um soneto que exalta a sua terra, com evocação de Al Aaraf: “O tempo tudo apaga. Só permanecem, às vezes, os doces acervos da memória”:

“Andando pelas ruas da cidade,

lá onde nossa Vila foi começo,

eu vejo hoje nova realidade,

mas que, do tempo antigo, eu não esqueço!

***

Em cada canto encontro uma saudade;

saudade do que foi e não tem preço;

da antiga Vila que virou cidade

e até parece mudou de endereço…

***

Cadê as Sinhá-donas, fortes, bravas?

Cadê as mucamas e as negras escravas?

Para onde foram negros alforriados?

***

O tempo dispersou-os, tão-somente,

e agora nós só vemos nova gente

e os outros são retratos já passados!”

Em Poema para minha mãe revela toda a sua sensibilidade e sentimentalismo, invocando Mário Quintana: “Mãe… São três letras apenas/As desse nome bendito:/Também o céu tem três letras…/E nelas cabe o infinito”:

“Minha mãe! Quanta saudade

estou sentindo de ti,

neste amargor que me invade

desde quando te perdi…

***

Já passaram cinco anos

do dia dessa partida;

só restaram desenganos

a marcar a minha vida.

***

E sempre, das Mães, o Dia

me faz o vulto lembrar

dessa Mãe, que era meu guia,

com tal doçura no olhar…

***

Que saudade! Mãe querida!

A vida cerrou-te o véu.

Mas sei que estás protegida

junto a Maria, o Céu!”

Tal é o vate que Almirante Tamandaré ofereceu ao Paraná e ao Brasil!

Harley, continue a versejar para sempre nos encantar!

Luís Renato Pedroso

é desembargador jubilado e presidente do Centro de Letras do Paraná.

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