A história do menino que não queria crescer já foi contada de muitas maneiras diferentes. Começou como peça teatral há cem anos, foi desenho da Disney em 1953 e agora chega em adaptação com atores de carne e osso, sob a direção de P. J. Hogan. O enredo, clássico a esta altura, também já foi contado pelo ponto de vista do seu vilão em Hook, de Steven Spielberg.

A versão do novo milênio, como se esperava, adapta o formato original para o gosto da época. Quer dizer, é basicamente a história inventada pelo escocês J.M. Barrie em ritmo contemporâneo, acelerado em algumas seqüências e turbinado por efeitos especiais no todo.

A boa notícia é que essa modernização não descaracteriza nem tira a beleza da história. Temos lá, no filme que estréia hoje em todo o Brasil, todos os elementos do enredo e sua estrutura bastante preservados, o que não é pouco se levarmos em consideração alguns aspectos meio escabrosos da invenção de Barrie e que poderiam ser omitidos numa versão light.

Por exemplo, não é poupada ao espectador a visão de esqueletos acorrentados no soturno palácio de Gancho, mostrando qual será o fim provável dos irmãos de Wendy e dos meninos perdidos, capturados pelo bando do capitão. Mas, para compensar, há o final lacrimogêneo e moralizante quando todos se reintegram à sábia estrutura familiar e decidem prosseguir a rotina da vida, mesmo a custo do tão temido crescimento. Mas, de qualquer forma, esse é mesmo o desfecho previsto e sem o qual a fábula não teria lá muito sentido.

Por isso mesmo, o contrário da vida rotineira, lá onde Peter Pan mora e vive suas aventuras, chama-se Terra do Nunca. Convive com fadas, brinca e empenha-se em luta contra os piratas comandados pelo arquivilão Gancho. Convém lembrar que o capitão malvado, em duelo com Peter, perdeu a mão e esta foi devorada por um crocodilo gigante, que vive atrás do resto do pitéu. Gancho só se salva porque o bicho engoliu um relógio e o tique-taque denuncia a sua presença. É curioso que, em uma terra onde o tempo não conta, seja um relógio a assinalar a presença da fera.

Símbolos

Este é apenas um dos elementos simbólicos que fazem o encanto da história. Ela é de início ambientada na Londres vitoriana. Pai e mãe brigam e a vida de Wendy e irmãos parece meio chata. A ponto de eles se sentirem tentados a partir para a aventura, deixando a família para trás. O ingresso na Terra do Nunca parece uma daquelas passagens de dobra de tempo, clichê dos filmes de ficção científica, incluindo o clássico 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Essa e outras proezas espaciais devem encantar as platéias de hoje. Principalmente, as do embate final entre piratas e meninos (e mais Wendy, junto com a fada Sininho, as únicas personagens femininas da Terra do Nunca), cheio de peripécias, vôos e coreografias marciais contemporâneas.

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