Pense em arte japonesa, mais precisamente em artes plásticas, pintura ou gravura. Muito provavelmente, a imagem que se desenha no cérebro é uma lembrança de uma das obras de Toshusai Sharaku, artista plástico e gravurista que viveu na cidade de Edo, no final do século 18. Seus bustos com expressões exageradas, olhar fixo ou agressivo, cores e traços simples, no estilo chamado de ukiyo-e, são a marca registrada das artes plásticas no Japão.
Uma releitura desse grande gênio da arte nipônica inaugura a temporada 2003 da Casa Andrade Muricy amanhã, a partir das 19h. A mostra Sharaku Revisitado por Artistas Contemporâneos do Japão, que está passando por diversos estados brasileiros, é uma parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura (Seec) e o Consulado do Japão.
A exposição é descrita pelo cônsul Katsumi Yoshimura como uma “reinterpretação de trabalhos do genial artista Toshusai Sharaku, feita por designers gráficos e artistas de hoje, duzentos anos depois de seu tempo”. Vinte e oito designers gráficos japoneses e 11 artistas contemporâneos têm como tema comum os trabalhos de Sharaku, e apresentam 81 trabalhos.
Não se trata portanto de um panorama da obra do artista, nem uma coletânea de exemplos famosos de ukiyo-e (estilo em xilogravura criado no século 17, que descrevia pessoas, paisagens da natureza, o cotidiano e o universo do teatro japonês), mas das relações entre a antiga técnica e o desenho gráfico do Japão, as diferentes abordagens adotadas pela arte contemporânea e a diversidade da expressão artística atual, numa experiência que une o passado e o presente da arte japonesa.
Sharaku Revisitado é dividida em três grandes seções: uma com reproduções de Sharaku, com 28 trabalhos; outra chamada Sharaku na Arte Gráfica, também com 28 obras; e Tributo a Sharaku, com 25 trabalhos. Nesta última seção estão também objetos, esculturas e cerâmicas. Cada artista construiu suas próprias estratégias para lidar com o tema, criando a partir dos seus próprios pontos de vista.
A seção Reproduções de Sharaku alinha reproduções recentes de todos os 28 retratos de busto do artista reproduzidas pelo Instituto Adachi de Xilogravura, um dos importantes espaços artísticos do Japão. São reproduções fiéis dos trabalhos originais, dos quais existem ainda apenas cerca de 600 exemplares.
Sharaku na Arte Gráfica mostra uma seleção de obras, mais particularmente os atraentes pôsteres relacionados com os retratos de busto de Sharaku de 28 dos melhores designers gráficos em atividade no cenário artístico japonês.
Tributo a Sharaku traz 25 obras concebidas especialmente para esta mostra por onze jovens artistas contemporâneos, que não tinham referência sobre o trabalho de Sharaku, numa homenagem ao mestre do ukiyo-e.
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Até o dia 9 de fevereiro, com visitação de terça a domingo, das 10 às 20h, com entrada franca. A Casa Andrade Muricy fica na Al. Dr. Muricy, 915.
O mistério de Sharaku
Toshusai Sharaku nasceu em Edo, no Japão, há cerca de dois séculos. Depois de ter criado 140 trabalhos em apenas dez meses, de maio de 1794 a fevereiro de 1795, o artista desapareceu subitamente. A maioria destas gravuras era de retratos de atores em seus papéis Kabuki ou Kyogen do teatro Nô japonês, outras incluem imagens de guerreiros e lutadores de sumô.
Vinte e oito retratos grandes, mostrando closes de cabeças de atores impressas em profusão de cores (os famosos bustos) foram as mais apreciadas de suas obras. Enquanto seus precursores retrataram apenas cabeças ou retratos de bustos, Sharaku ousadamente capturou as feições de cada ator e as características de seu papel por meio de uma observação aguçada e impressionante expressividade realística.
No curto período de sua carreira, Sharaku passou de um estilo para o seguinte, de retratos de corpo inteiro de atores, em formato estreito, para obras com seqüências e imagens de fundo claramente representadas. Ignorado por mais de 100 anos, este gênio do ukiyo-e foi redescoberto pelo alemão Julius Kurth, que lançou uma publicação sobre o artista em 1910.
O enigma com respeito à identidade de Sharaku ainda não foi revelado, alguns acham inclusive que ele era um artista famoso que adotou esse nome por um período limitado. Suas obras espalhadas por todo o mundo, inclusive nos acervos do British Museum, do Art Institute of Chicago e do Metropolitan Museum of Art, em Nova York. Poucas obras permanecem no Japão, sendo que 27 retratos de bustos de atores que pertencem ao acervo do Tokyo National Museum foram tombados como Patrimônio Cultural do Japão.