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O paroxismo da paixão e o ressentimento social

Cinema Francês, da Versátil (com 2 DVDs, R$ 70,90), reúne duas grandes obras de mestres da nouvelle vague: “A Mulher do Lado” (1981), de François Truffaut, e “Mulheres Diabólicas” (1995), de Claude Chabrol. Em “A Mulher do Lado”, Truffaut aborda o paroxismo da paixão. Bernard (Gérard Depardieu) vive em paz com sua mulher e um filho. Até o dia em o casal Philippe e Mathilde (Fanny Ardant) se muda para a casa vizinha. Bernard e Mathilde tiveram um caso anterior e com a proximidade física o fogo reaviva. E vira incêndio.

Em tom hitchcockiano (ponto comum aos dois filmes), a paixão segue seu rumo inexorável e devorador. Truffaut explora como poucos o lado obsessivo de toda relação amorosa. E dirige grandes cenas com essa dupla incrível em plena forma. Numa delas, Mathilde, após beijar Bernard, simplesmente perde os sentidos e cai prostrada no chão. Cena forte demais.

Já em “Mulheres Diabólicas” (o título original mais sutil é La Cérémonie), há um lado social mais pronunciado. Inspirado no caso policial das irmãs Papin, e também na peça de Jean Genet, Les Bonnes, Mulheres Diabólicas narra uma história de ressentimento levada ao limite.

Sophie (Sandrine Bonnaire) emprega-se como doméstica numa casa burguesa. Ela é analfabeta e esconde sua condição, porque dela se envergonha. Um dia, conhece uma funcionária dos Correios, Jeanne (Isabelle Huppert), uma mulher de caráter tortuoso e passado incerto. Tornam-se amigas. As duas, separadas, talvez fosse inofensivas. Juntas, formam uma bomba atômica.

Baseado numa tensão progressiva, o filme é finamente construído por um diretor que teve em Hitchcock inspiração de toda uma vida. Sandrine Bonnaire e Isabelle Huppert estão estupendas. Sem qualquer discurso ideológico, “Mulheres Diabólicas” expõe as feridas sociais da desigualdade. E analisa um caso em que essa ferida infecciona para valer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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