Qual pai já não foi levado à loucura com as festas de seus filhos adolescentes? E qual deles já não se desesperou com um boletim sofrível e as horas e horas na internet? E a rebeldia e falta de satisfação que seus moleques fazem questão de demonstrar?
Se no início de suas vidas os filhos dependem dos pais para tudo, quando chega a adolescência esquecem que o pai existe e a impressão é que ele se torna um ser invisível. Mas, na verdade, não é bem assim: volta e meia ele será lembrado nas situações em que gostaria justamente de ser esquecido para aquela carona de madrugada, para bancar o cinema e o tênis importado, para levar os filhos e toda a galera naquele passeio que é a maior roubada.
Em O pai invisível, Kledir relata as várias situações cômicas e surreais pelas quais já se viu envolvido com os filhos adolescentes e relembra seu próprio tempo de garoto, quando a vida era bastante diferente e tudo parecia acontecer em outro ritmo. Num estilo espirituoso, o autor conta histórias engraçadas com as quais pais e filhos vão se identificar, pois certamente já viveram situações semelhantes.
Você é conhecido nacionalmente como músico, pelo trabalho ao lado de seu irmão na dupla Kleiton & Kledir. Quando você decidiu se dedicar também à literatura?
Aprendi a escrever de ouvido. Minha relação de amor com as palavras vem da infância. Eu adorava histórias e tinha uma curiosidade especial pela maneira como elas eram contadas. A partir da adolescência comecei a fazer canções e essa foi minha escola. Escrever letra de música popular é um bom exercício de rigor literário. É preciso respeitar métrica, prosódia, rima… E mais, a coisa toda ainda tem que fazer algum sentido e ter um mínimo de beleza. Há alguns anos, comecei a escrever prosa e foi uma descoberta agradável, pois eu podia contar histórias sem muita preocupação com regras. A não ser as de gramática e de concordância. Talvez isso explique o bom humor e a despretensão do meu texto. Eu me divirto escrevendo.
O livro traz diversas situações engraçadas que você viveu com seus filhos e sua mulher. O que o motivou a tornar públicas essas histórias? Você acha que muitos outros pais vivem situações semelhantes e podem se identificar com a sua experiência?
Acredito que sim. Eu me vejo como um cara comum, tentando acompanhar o ritmo acelerado do nosso tempo. Um artista brasileiro às voltas com a família, o trabalho, as lembranças de infância e, principalmente, os filhos adolescentes. O Pai Invisível é um relato divertido desse meu cotidiano que, no fim das contas, é igual ao de todo pai que precisa criar filhos adolescentes nos dias de hoje.
A diferença de gerações é um dos temas principais do livro. Na sua opinião, o que melhor caracteriza os adolescentes de hoje?
Acho que é a capacidade que eles têm de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Eu só consigo me concentrar em uma coisa de cada vez. Considero esse detalhe um avanço extraordinário da capacidade cerebral do ser humano e tenho certeza que essa garotada vai conseguir construir um mundo muito mais plural, aberto e cheio de soluções interessantes.
O que é mais difícil: ser cantor e escritor, ou ser pai?
Nada se compara à experiência de ser pai. É difícil, mas não no sentido de ser pesado. É difícil, porque não existe escola que ensine e o grau de responsabilidade é muito maior. Ao mesmo tempo, é uma realização de vida de valor incalculável.
Sobre o autor
Kledir Ramil é gaúcho, nascido em 1953. Consagrado na música com a dupla Kleiton & Kledir, despontou na literatura com o livro de contos e crônicas Tipo assim, que lhe rendeu elogios entusiasmados, prêmios e convites para apresentar suas histórias num programa do Canal Brasil e numa coluna no jornal Zero Hora.
Título: O pai invisível.
Autor: Kledir Ramil.
Editora: Objetiva.
Preço: R$ 26,90 (133 págs.)