O Oscar vai para… Quem?

Hollywood realiza depois de amanhã a 77ª edição de seu prêmio Oscar num momento
muito especial. A indústria do entretenimento fatura hoje US$ 1,3 trilhão por
ano, em todo o mundo. O cinema e todos os produtos a ele relacionados ocupam a
maior fatia dessa dinheirama toda. E Hollywood, que possui a hegemonia dos
mercados, fica com a parte do leão. Os executivos que vão vestir black-tie na
noite de domingo para pisar no tapete vermelho do Kodak Theatre, em Los Angeles,
comemoram o maior faturamento dos últimos anos – algo em torno de centenas de
bilhões de dólares. Mas a euforia é enganosa. O aumento do faturamento deve-se
ao aumento do preço do ingresso nos EUA. Na verdade, o mercado encolheu – pouco
mas diminuiu, coisa em torno de 1%.

Tudo isso é da maior relevância e por
dois motivos. Os norte-americanos reconhecem o cinema como uma indústria, mesmo
quando fingem defender a arte dos filmes. E estão preocupados com essa perda.
Não se admire que a festa do Oscar virar tribuna de manifestações contra a
pirataria, que todos responsabilizam pela evasão de divisas. Oscar e dinheiro
formam uma dobradinha rentável. A simples menção à estatueta aumenta o
faturamento de qualquer filme. São raros, raríssimos, nos 76 anos precedentes,
os casos de filmes que fracassaram na bilheteria e foram agraciados com o prêmio
da academia. Os votantes preferem premiar filmes de sucesso. Este ano, nenhum
dos cinco indicados foi um estouro espetacular, mas faturaram bem, dignamente, o
que pode ser um fator de equilíbrio para a disputa.

O favoritismo, claro,
vai para O Aviador, de Martin Scorsese, com suas 11 indicações, que, em questão
de merecimento, poderiam ser reduzidas a duas – melhor ator para Leonardo
DiCaprio e melhor trilha (prêmio para o qual não foi indicado, vejam só).
Scorsese poderá ganhar por um dos maiores equívocos de sua carreira. Desde que
trocou de produtora, substituindo Barbara De Fina, ele tem colocado os pés pelas
mãos, com crises de megalomania que se refletem em filmes que ambicionam a ser
sínteses – estéticas, políticas e culturais -, perdendo-se no meio do caminho.
As Gangues de Nova York também foi indicado para um monte de prêmios e não
ganhou nenhum. O Aviador é uma falsificação grosseira da vida de Howard Hughes,
que foi um personagem muito mais complexo e controvertido do que o diretor
mostra.

Scorsese poderia ter feito de O Aviador um grande filme, mas para
isso teria de ter trocado seu roteiro, que transforma em fantasia hetero a
história de um sujeito que era bissexual e cujas ligações, com o submundo da
perversão e o alto mundo das finanças, era muito mais apimentada do que ele
sugere. Você sabia que Hughes, antes de morrer, deu ordens expressas para que
toda a parte de seu arquivo pessoal que tratava das relações com a CIA fosse
destruída? Há evidências de que ele esteve envolvido no escândalo de Watergate.
Scorsese não polemiza. Fica no clichê – a doença, o gênio criador – interessado
que está em construir uma reflexão sobre o norte-americano como empreendedor. Só
para lembrar – Orson Welles também fez isso, em 1941, tomando William Randolph
Hearst como paradigma. Cidadão Kane, que ostenta o título de melhor filme de
todos os tempos – dividido, é verdade, com O Encouraçado Potemkin, de Sergei M.
Eisenstein -, continua mais crítico e desmistificador. E foi feito há 64
anos!

O Aviador define o modelo de cinema ‘adulto’ que o Oscar selecionou
em 2005, entre os melhores de 2004. Colateral, de Michael Mann, que ficou de
fora, é muito mais maduro. O melhor dos cinco é Menina de Ouro, de Clint
Eastwood. Quem leva? Jamie Foxx, por Ray, ou DiCaprio? Hilary Swank, a própria
menina de ouro? Os quadros que acompanham essa edição mostram os prêmios que os
indicados já ganharam, o que é forma de discutir suas chances. Faça suas
apostas. E poste-se diante da TV, como mais de um bilhão de telespectadores em
todo o mundo, para torcer na hora em que aquele envelope for aberto. E o Oscar
vai para… Quem? Respostas, depois de amanhã à noite.

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