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O múltiplo talento de Beatriz Segall vivia à sombra de Odete Roitman

Vilã, mocinha, performance de musical – em mais de 70 anos de carreira, a atriz Beatriz Segall notabilizou-se por um talento múltiplo. Mesmo assim, era mais conhecida pelo papel de Odete Roitman, a vilã que foi assassinada durante a novela Vale Tudo, exibida pela Globo em 1988. Uma fama que a incomodava, pois encobria uma notável trajetória. Beatriz de Toledo Segall morreu nesta quarta-feira, 5, em São Paulo, aos 92 anos. A causa da morte não foi informada. A atriz estava internada havia algumas semanas no hospital Albert Einstein, com problemas respiratórios. Seu corpo deverá ser cremado ao meio-dia de hoje, em Cotia, na Grande São Paulo.

Nem que quisesse, Beatriz Segall poderia interpretar personagens deselegantes. Nascida, em 1926, numa família de classe média, o pai dirigia uma prestigiada escola no Rio e ela teve educação esmerada, segundo os padrões dos anos 1940 – piano, francês e bordado. Amava o teatro, mas, quando anunciou à família que queria ser atriz, o pai quase teve uma síncope. Meninas de boa família não subiam ao palco, naquele tempo em que atrizes tiravam carteirinhas de prostitutas para exercer a profissão. Mas, nos anos 1950, quando recebeu uma bolsa para estudar francês e literatura em Paris, não renunciou a nada.

No Brasil mesmo, já havia iniciado um curso de teatro com a grande Henriette Morineau. A temporada na França foi gloriosa – prosseguiu esses estudos, enamorou-se do filho (Maurício) do pintor Lasar Segall. Casaram-se em 1954 e tiveram três filhos – Sérgio, Mário e Paulo. O primeiro tornou-se um importante cineasta, assinando como Sérgio Toledo. Foi premiado em Berlim, em 1987, com Vera. Durante dez anos, Beatriz permaneceu devotada à família, aos filhos. Em 1964, o ano do golpe militar, retomou a carreira, substituindo Madame Morineau na montagem de Andorra, no Oficina, de José Celso Martinez Correia. Não parou mais. O marido pertencia à ALN, tendo sido preso e torturado. Beatriz teve de ser o arrimo da família nesse período difícil.

Brilhou em todas as mídias – assinando como Beatriz Toledo, estreou no cinema em 1950, com A Beleza do Diabo, de Romain Lesage. Não filmou muito, mas participou de trabalhos importantes – Cléo e Daniel, À Flor da Pele, Pixote, a Lei do Mais Fraco, Romance, Desmundo. Na TV, embora tenha participado de novelas de grande sucesso – Dancin’ Days, Água Viva, Pai Herói, Sol de Verão, Barriga de Aluguel – o grande papel foi como Odete Roitman, que virou emblema de autoritarismo e corrupção em Vale Tudo, folhetim de Gilberto Braga (escrita com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères).

Consagrada como vilã, sua personagem inspirou o mistério que, nem depois de solucionado – Quem matou Odete Roitman? -, deixou de inspirar humoristas e autores.

No teatro, entre muitíssimas personagens, em montagens que fizeram história – Os Inimigos, Marta Saré, O Inimigo do Povo, A Longa Noite de Cristal, O Interrogatório -, foi uma extraordinária intérprete de Edward Albee em Três Mulheres Altas, contracenando com Natália Thimberg e Marisa Orth na versão dirigida por José Possi Neto, em 1995. Em 2009, recebeu do então governador José Serra a comenda da Ordem do Ipiranga.

Em 2015, a curiosidade e o desafio a fizeram aceitar um papel no musical Nine – Um Musical Felliniano, de Charles Möeller e Claudio Botelho. Ainda que com uma voz sem grande potência, ela se destacou pela forte presença.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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