O míssil do beira-mar

(“No creo em brujas…”)

Eu venho alertando, faz tempo, que os elefantes brancos não existem, mas costumam fazer um estrago enorme em nossos jardins, em nossa vida. Justamente porque não acreditamos neles, não lhes damos a menor importância. Enquanto isso, eles vêm vindo, atropelando tudo e a todos, aproximando-se ameaçadoramente para nos esmagar!

Repare à sua volta. Estão por toda parte. São índios (seriam eles ainda inimputáveis?) fechando estradas, seqüestrando pessoas e invadindo prédios que sediam órgãos públicos. São caminhoneiros interditando o tráfego nas rodovias. Sem-terra invadindo a fazenda e a casa do presidente da República, e desafiando o poder constituído com suas enxadas e foices. Sem-tetos invadindo prédios públicos. Confrarias de bandidos que, assessoradas por advogados inescrupulosos e policiais corruptos, comandam, dos presídios, os seqüestros e as execuções sumárias. Vejam que essas sociedades de criminosos já adotaram, faz tempo, a pena de morte (de inocentes!). Mas a sociedade organizada constitucionalmente tem pudores (pundonores!) até para adotar mecanismos que impeçam as inexplicáveis fugas e rebeliões nos presídios; ou até mesmo para desbaratar as forças mafiosas dos morros e favelas! Na entrada das prisões, advogados de traficantes não aceitam ser revistados. Inspeção de visitantes do sexo feminino também é repudiada. Detentos não querem ser monitorados (talvez até algemados) dentro das prisões, de modo a evitar que esburaquem as paredes e escavem túneis e matem os agentes penitenciários… Visitantes continuam levando serras e celulares para os detentos. A mãe de um preso perigoso levou recentemente quatro serras dentro de um salame endereçado a seu filho. Felizmente, foi descoberta a fraude materna… Assim, fica difícil adotar qualquer medida que vise proteger a população contra os facínoras!

Ah! E os celulares continuam a funcionar tranqüilamente nos escritórios do crime organizado, de dentro das prisões! Tiram deles hoje, eles retomam amanhã. Estão escarnecendo, tripudiando de todos nós.

A esperança da sociedade é que as forças jovens do Ministério Público não aceitem as “explicações” risíveis que têm emanado dos gabinetes da burocracia viciada e exija, sim, uma varredura fina, não apenas nos porões imundos dos presídios, mas sobretudo – doa a quem doer! – na camarilha que acoberta as patifarias que ali se cometem rotineiramente. Fontes governamentais admitem que não se conseguiu prender ainda aquele traficante “maluco” que assassinou Tim Lopes, porque deve haver policiais corruptos dando cobertura a ele. Será?…

Viram e ouviram a encomenda de um míssil, feita por telefone, pelo Fernandinho Beira-mar? Ah! – disse alguém – deve ser um blefe, uma forma de demonstrar poder! Ou então, não é para ser usado no Brasil, mas para ser vendido às forças revolucionárias da Colômbia!

– “É isso mesmo… Fernandinho não é louco de utilizar um trambolho desses aqui”… Pois bem! Vão pensando assim, que daqui a pouco – surpresa! – o bandido explode este País, deixando os trouxas boquiabertos e arrasados. Tal qual aconteceu nos Estados Unidos, com as Torres Gêmeas! Quem iria acreditar numa loucura daquela magnitude? Eu mesmo teria achado mais fácil crer em elefantes brancos do que na possibilidade de uma façanha diabólica como aquela, que deixou o mundo inteiro estarrecido até hoje.

A propósito, um fato me faz perder o sono. Por que será que os bandidos entram nos bancos a hora que bem entendem, roubam o quanto querem, tomam aquelas armas “de brinquedo” dos seguranças, e ninguém (os banqueiros) faz nada, absolutamente nada? Alguém está lucrando com isso. Além dos ladrões, é claro. Confesso que estou curioso para saber. Quando descobrirem, me contem tudo e não me escondam nada – por favor!

A verdade é que, no fundo, subestimamos a ousadia dos insensatos recrutas dessa máfia poderosa e invisível!

Pois é. Não acreditamos em elefantes brancos, assim como no creo em brujas… mas que eles existem, existem. Sim, devem existir – a julgar pelo estrago que vão deixando pelo caminho!

Albino Freire

é juiz de Direito aposentado, professor da Escola da Magistratura e membro da Academia Paranaense de Letras.

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