O mineirinho Leonardo na luta por espaço

A aparência franzina de Leonardo Miggiorin contrasta com o grande espaço que ele parece ocupar na telinha. A “ilusão de ótica” é uma evidência do talento desse ator de 21 anos, que há nove se dedica à interpretação. Como o rebelde Rodrigo, de “Mulheres Apaixonadas”, Leonardo enfrenta sucessivas cenas de conflito com o pai, o frio médico César, de José Mayer. E não economiza emoção. “Vou com ?as dez?. Dou meu máximo para corresponder às expectativas, tanto do autor e do diretor quanto do público”, garante, com um indecifrável sotaque de quem nasceu em Barbacena, Minas Gerais, e morou em outros cinco estados brasileiros.

Para viver um jovem fascinado por motos na novela de Manoel Carlos, Leonardo teve de superar o medo e aprender a pilotar. As aulas de boxe, porém, não estavam no “script”. “Servem para desenvolver a agressividade do personagem”, explica. Mas, na verdade, foi com um tipo bem diferente do intempestivo Rodrigo que ele se destacou na Globo, há dois anos. Na minissérie “Presença de Anita”, do mesmo autor, encarnou o tímido Zezinho, que apaixona-se e perde a virgindade com a perturbadora Anita, de Mel Lisboa. “Ele quase não falava. Mas, assim como o Rodrigo, tinha uma vida intensa pulsando”, compara o ator que, curiosamente, gravou na minissérie seus primeiros embates com José Mayer, o amante de Anita na história.

O desempenho de Leonardo em “Presença de Anita” – reprisada em 2002 – saltou aos olhos da Globo. Mas o ator trocou uma proposta de contrato com a emissora por uma temporada de estudos em Nova Iorque, ao lado da namorada, a atriz Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos. Os dois só retornaram no final do ano passado, a tempo de integrar o elenco da nova produção do autor. “Separamos bem as coisas. Sou apenas um ator que faz a novela do autor Manoel Carlos. Ele não comenta meu trabalho. Nem eu o dele. É mais tranqüilo assim…”, esquiva-se, educadamente, sem prolongar o assunto.

P

– O Rodrigo, de “Mulheres Apaixonadas”, é bem diferente do Zezinho, de “Presença de Anita”. Como um personagem o habilitou a interpretar o outro?

R

– Acho que consegui mostrar, com o Zezinho, que estava pronto para o que viesse. E o fato de viver agora um personagem tão diferente só me estimula como ator. O Zezinho era tímido, inocente. Ficava quietinho, calado num canto. Ouvia bem mais do que falava. O Rodrigo é o contrário. Não pergunta. Não pede licença. Não mede conseqüências. É intempestivo, inconformado, temperamental. Tem um jeito histriônico de se expressar. Mas, apesar de tudo, é bom caráter. Só tem mágoa do pai… Acho que tive sorte de pegar esses dois papéis. Personagens diferentes, mas intensos por essência. Com uma vida muito forte pulsando por dentro.

P

– E como foi o processo de composição do Rodrigo?

R

– Assisti a muitos filmes dos anos 50. Minha principal inspiração foi James Dean. Mas composição é, acima de tudo, um trabalho interno. Tive muita cautela nesse processo. Não queria ficar estereotipado como o “rebelde sem causa”. Rodrigo é um rebelde com causa, que sofre com a indiferença do pai. Não podia deixar a questão entre eles parecer uma briga banal. Quero humanizar cada vez mais esse personagem.

P

– Mas, aparentemente, você não se parece nada com ele…

R

– Realmente não. Tenho boa relação com meus pais e nunca precisei ir tão longe para resolver meus problemas. Por isso mesmo, sinto necessidade de trabalhar características que não possuo para explorar em cena. Estou fazendo musculação e aulas de boxe. Assim, procuro desenvolver a agressividade do personagem. Outra coisa que fiz foi aprender a pilotar motocicleta. Mas, nesse caso, era uma exigência do papel.

P

E não teve receio de pilotar?

R

– De fora até parece perigoso… Mas, em cima da moto, você vê que realmente é perigoso! A verdade é que foi tudo no susto. Eu nem sabia que o personagem andaria de moto. Só descobri no começo da novela, com as gravações rolando. Mas tenho me saído bem… Pelo menos é o que o instrutor diz!

P

E, mais uma vez, você e José Mayer vivem personagens em conflito…

R

– Nos brincamos muito com isso. Eu tenho sido uma pedra no sapato dele! Costumo dizer que a gente lava toda a roupa suja em cena. Na verdade, acho que deu certo em “Presença de Anita” e resolveram repetir… Para mim é ótimo, claro! Ele tem dramaticidade e é um ator muito generoso. Fico observando a maneira como lida com o “set”, com a novela, com a expectativa do público… Quando tem experiência, o ator ganha mais segurança e tranqüilidade. É até divertido gravar.

21 anos na Estrada

Até seus recém-completos 21 anos, Leonardo Miggiorin levou uma vida de nômade. Nasceu em Barbacena, Minas Gerais. Mas não se sente mineiro. Na verdade, passou apenas seus dez primeiros dias de vida na cidade natal. O pai, aviador da Aeronáutica, logo mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde o garoto morou até os cinco anos. Os últimos 16 anos foram vividos em cidades como Brasília, Canoas, no Rio Grande do Sul, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, onde Leonardo passa atualmente a sua quinta “temporada”. “Agora que voltei a morar no Rio, por conta da novela, estou conhecendo melhor os lugares”, conta o ator, que no ano passado ainda viveu nove meses em Nova Iorque.

As malas sempre a postos, contudo, não impediram Leonardo de trilhar a carreira artística. Depois de fazer o primeiro curso de teatro no Rio de Janeiro, aos 12 anos, ele participou de grupos amadores em Curitiba e ingressou num curso profissionalizante de Artes Cênicas. Voltou ao Rio em 1998, quando foi aprovado no teste para a novelinha “Flora Encantada”, de Angélica. “Foi meu primeiro contato com televisão. Fazia uma criatura meio duende, meio humana, que se camuflava em tipos diferentes – gordo, negro, japonês, sorveteiro…”, lembra.

A oportunidade em “Presença de Anita” viria em 2001. Ao contrário da maioria dos testes que havia feito até então, Leonardo sentia-se tranqüilo. Estava certo de que tinha o perfil procurado. “Além disso, estudei e me dediquei muito para fazer o teste. Isso me trouxe confiança… Hoje, sei que foi um passo decisivo na minha carreira”, revela o ator de gestos contidos e jeito simples.

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