Para o cinéfilo de carteirinha, a grande credencial de O Militante é um nome na ficha técnica do filme que você poderá resgatar nesta segunda-feira, 4, na repescagem da Mostra. Embora seja uruguaio, e assinado por Manolo Nieto, O Militante é produzido por Lisandro Alonso. Portenho – nasceu em Buenos Aires, em 1975 -, Alonso tornou-se talvez o mais exigente autor de sua geração e uma alternativa muito interessante a Lucrecia Martel no cinema argentino mais independente.
Dirigiu quatro filmes desde La Libertad, em 2001. Quem frequenta festivais internacionais – e a Mostra -, teve oportunidade de ver Los Muertos, Fantasma e Liverpool. O novo longa de Alonso, previsto para o ano que vem, é interpretado por Viggo Mortensen como um estrangeiro que participa da ‘campanha do deserto’, contra os índios, no século 19, e depois se perde com a filha na extensão desolada.
Todos os filmes de Alonso se apoiam num ritmo mais intimista e emocional – Lucrecia seria mais ‘racional’, digamos assim. Vale falar do produtor porque sua personalidade também se reflete no filme de Manolo Nieto. O Militante chama-se El Lugar del Hijo, no original, e é disso que trata – um filho busca seu lugar no mundo, após a morte do pai. Universitário, ele milita no movimento estudantil, mas é obrigado a deixar a cidade grande para atender a um acontecimento de foro íntimo. A morte do pai o leva a Salto, no interior do Uruguai, e ele se vê no meio de uma disputa. Herdou uma casa na pequena cidade e uma fazenda em ruínas. Na casa, vive a companheira do pai. Na fazenda, os ‘gauchos’ colocam o citadino à prova, e o problema é que Ariel, o protagonista – interpretado por Felipe Dieste -, caminha com certa dificuldade e também é meio enrolado para falar.
Tudo isso faz dele um outsider nesse novo meio no qual se encontra, mas Manolo Nieto, à maneira de Lisandro Alonso, não trabalha no registro da simplificação. O militante, na verdade, é deslocado lá (na cidade) como cá (no campo). A privação do pai aumenta essa sensação de que existem camadas nessa busca que ele faz por seu lugar no mundo. Talvez seja o próprio diretor a procurar um lugar. Nascido no Uruguai, em 1972 – é um pouco mais velho que Lisandro Alonso -, ele assinou seu primeiro longa, La Perrera, em 2006, como Manuel Dias Zas. Não deixa de ser motivo de especulação psicológica como Manuel Dias virou Manolo Nieto.
CINESESC – Rua Augusta, 2.075, telefone 3087-0500
15h – Mundial – As Maiores Apostas, de Michalz Bielanski
17h – Estação Liberdade, de Caito Ortiz
18h50 – O Militante, de Manolo Nieto
21h – Somos o que Somos, de Jim Mickle
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.P