Aos 74 anos, e mesmo após dezenas de filmes e prêmios, Dario Argento, o grande mestre do cinema de horror italiano, continua não conhecendo bem seu lado obscuro. “Eu sempre digo para as pessoas que, se é para elas lerem algo que vai ser útil, que leiam Freud. Se ele não tivesse existido, se não tivesse mudado tudo com suas observações e teorias, estaríamos ainda vivendo como os homens das cavernas. Eu mesmo, eu converso com o Dario, mas não o conheço muito bem. Talvez isso me motive até hoje”, declarou o diretor, que recebeu no fim de semana o troféu pela carreira no Festival de Locarno, na Suíça.
Argento é modesto e, ao contrário do que poderia sugerir sua filmografia, formou gerações com filmes como Suspiria e Bakalala. Mas, se ainda não domina seu lado sombrio, já encontrou uma receita para sempre transformá-lo em filmes assustadores? “Não tem uma receita. Senão seria muito fácil. Conto a profundidade da minha parte obscura. Apesar de não entendê-la completamente, tenho bom diálogo com ela”, respondeu o diretor quando questionado sobre seu método de trabalho e sua receita para ter feito com que gerações de cinéfilos morressem de medo ao assistir seus filmes.
Argento, que além de pai da atriz e diretora Asia Argento também é criador de obras como Suspiria e Inferno, contou que prepara um novo longa-metragem e uma série para a TV. “Os dois, no entanto, vou produzir nos Estados Unidos. Ali tem mais liberdade e possibilidade de fazer cinema, de contar historias. Além de haver mais dinheiro, há mais abertura. Os produtores americanos são mais abertos a vários gêneros, que vão além da comédia, que hoje em dia domina o mercado italiano de cinema “, analisou o cineasta.
Argento, para quem a preparação de um filme e de suas cenas é tao apaixonante quando a filmagem, comentou ainda que para ele é sempre apaixonante poder criar cenários interessantes e propor situações que podem ser até esdruxulas, mas que surtem efeito no público. “Preparar e filmar são dois aspectos muito importantes de todo filme. É sempre uma delícia para mim. E confesso que aprendi muito nos últimos anos dirigindo também no palco”, comentou o diretor que, em 2013, dirigiu sua primeira ópera, Macbeth, de Giuseppe Verdi, baseada na obra de William Shakespeare. “É uma montagem completamente diferente das que já havia visto. Tem sangue, homicídio, nudismo, relação sexual de dois personagens no palco. Foi um momento belíssimo. E cada vez mais quero encarar desafios assim “, comentou o diretor sobre o espetáculo que está viajando pela Itália e tem possibilidade de chegar a outros países em breve.