Olhos e ouvidos não conseguiam se desprender do palco onde solistas, Coro e Orquestra da Academia Bach de Stuttgart, liderados por Hans-Christoph Rademann, interpretavam o oratório “O Messias”, de Haendel, na segunda-feira, 06, na Sala São Paulo, no concerto de abertura da temporada 2015 da Sociedade de Cultura Artística. Uma pergunta pairava no ar: como e por que “O Messias” soa tão leve e nos emociona tanto.

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O segredo é simples. É música que flui como improviso. A frase completa de Romain Rolland é “um improviso perpétuo”, onde a espontaneidade importa mais do que sutilezas de forma. Música “para ser servida quentinha, vinda do forno”, segundo Rolland.

Afinal, Haendel era homem de teatro, de mercado. Ele compôs 48 óperas, bancou sua própria companhia, faliu em 1739 e deu a volta por cima quando o moralista bispo de Londres proibiu, em 1741, os meninos cantores da capela real de se apresentarem ao lado de atores.

A solução negociada desembocou em concertos em forma de oratório. Haendel ampliou a clientela, apresentando espetáculos em inglês; reduziu custos suprimindo os cenários e renunciando às estrelas italianas; criou um novo centro de interesse dramático inserindo muitos corais; e escapou à proibição de espetáculos teatrais na Quaresma. Durante seis semanas por ano, seus oratórios não tinham concorrentes.

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Plenitude

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É preciso entender estas circunstâncias para avaliar a genialidade do Messias. Que, aliás, mostra-se em sua plenitude quando é recriada com intérpretes tão qualificados como os da Academia Bach de Stuttgart e Hans-Christian Rademann, seu novo regente titular desde 2013, quando o sublime Helmuth Rilling passou-lhe o bastão.

Numa obra em que os coros são o núcleo mais importante, o Coro alemão foi extraordinário, entre outros, em “For unto us a child is born”, “Lift up your heads” e “Worthy is the lamb”. Entre os músicos, execuções seguríssimas e empenhadas, desde a abertura à francesa, com ritmos pontuados, e o acompanhamento dos recitativos e árias dos solistas vocais. Imaculada a bela voz da soprano Johanna Winkel (destaque para “Rejoice” e “I know that my Redeemer liveth”); acariciante o timbre de Ann-Beth Solvang, apesar volume aquém do desejável nos graves (lindas suas árias “But who may abide the days of His coming” e “He was despised”).

Se não encantou na primeira ária, “Ev’ry valley shall be exalted”, o tenor Sebastian Kohlhepp recuperou-se em “Thou shaw break them with a rod of iron”. O destaque vocal ficou com o baixo Markus Eiche, entusiasmante, sobretudo em “Why do the nations so furiously rage together” e numa das mais famosas árias do oratório, “The trumpet shall Sound”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

ACADEMIA BACH DE STUTTGART

Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, Luz, tel. (011) 3367-9500. Quarta, 21h. R$ 50/R$ 430.