Vamos logo esclarecendo que o terceiro filme da franquia Harry Potter é o melhor de todos. Escudado no que que lhe disse a escritora J.K. Rowling e que foi entendido por ele como um ‘liberou geral’ – “Ela me autorizou a ser fiel mais ao espírito do que à letra do livro”, disse Alfonso Cuarón à revista Premiere -, o diretor mexicano faz uma boa estréia na série Harry Potter. O terceiro filme da franquia, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, que toma hoje de assalto 500 salas de todo o País – quase um terço do circuito exibidor nacional -, é superior aos dois anteriores, mas isto, francamente, com o respeito dos fãs, não quer dizer muita coisa. Talvez seja mais adequado dizer que é o primeiro filme legal de Harry Potter.
Só tietes de carteirinha da saga do bruxinho de Hogwarts podem gostar incondicionalmente de Harry Potter e a Pedra Filosofal e Harry Potter e a Câmara Secreta. Ambos foram assinados – melhor seria dizer assassinados -pelo lisérgico Chris Columbus, que sabe ganhar dinheiro, mas não contar boas histórias. Columbus gastou três horas intermináveis para contar a história de O Homem Bicentenário, que o escritor Isaac Asimov concentra em meia dúzia de páginas, se tanto.
Desde o início comentava-se que Chris Columbus dirigiria só os dois primeiros filmes e, para o terceiro, seria escalado um diretor latino. A escolha de Alfonso Cuarón pode ser explicada em parte por sua afinidade com o universo infantil, já que ele realizou em Hollywood, em 1995, a sua versão de A Princesinha, atualizando o clássico de Frances Hodgson Burnett. A fama do diretor, de qualquer maneira, vem de E Sua Mãe também, que arrebentou no mercado americano (e conquistou espectadores em todo o mundo). É bem viável uma ponte entre E Sua Mãe também e O Prisioneiro de Azkaban. Este, por sua vez, pode ter censura livre, mas não se destina às criancinhas. Os baixinhos poderão assustar-se com os dementadores, que guardam a prisão de Azkaban e se postam em todas as entradas e saídas de Hogwarts, dispostos a prender Sirius, mas são incapazes de discernir o fugitivo de qualquer dos bruxinhos.
Uma parte da trama é complicada – quando o trio de amigos, Harry, Hermione, que confirma seu status de bruxinha inteligente, e Ron, viaja no tempo e consegue olhar as próprias ações, como um filme dentro do filme. Emma Thompson é impagável numa boa como adivinha dentuça (e desastrada). O bom é que O Prisioneiro de Azkaban, com os defeitos que possa ter, tem magia e isto é mais do que se pode dizer dos filmes anteriores.