O melhor funk do Bonde do Rolê

Pode espernear, dizer que o som é ruim (o que não é verdade nesse caso), tentar racionalizar explicando que não é cultura própria da cidade. Aliás, diga o que quiser, mas o fato é que a banda curitibana mais famosa hoje no circuito independente, já com um quê de status internacional, é o Bonde do Rolê. E eles tocam funk. Sim, funk. Não o funk de James Brown, o que para muitas pessoas os faria ser ?passáveis??. Tocam funk do morro carioca.

Mas a diferença entre a banda e os músicos cariocas do gênero é que a bagagem cultural dos curitibanos os leva a misturar samples (trechos de músicas) sofisticados e bem humorados de rock com o pancadão, resultando em produções que permitem que suas faixas sejam tocadas por DJs de rock, techno, electro, house e, claro, funk. ?A estrutura que usamos é a de música pop com alguns elementos do funk carioca. Mas deixamos de lado os kits musicais (utilizados para criar as faixas) e as batidas usadas no Rio, que são as mesmas desde que MC Batata gravou Feira de Acari. Aquilo já tá muito velho?, liga os pontos Pedro D?Eyrot, um dos integrantes da banda.

?É funk, mas ao mesmo tempo não é funk??, diz Rodrigo Gorky, uma das mentes por trás do Bonde. O funk do Bonde do Rolê é feito sobre samples tirados de Daft Punk, AC/DC, Alice in Chains, Smashing Pumpkins, The Darkness. As letras, bem, como todo funk que se preze, enfatizam todo o tipo de fluído corporal que é possível a um ser humano trocar com outro.

Da ?piada que cresceu??, como os integrantes mesmos brincam, para a fama, tudo aconteceu rápido. A primeira música do Bonde não tem nem um ano de existência, criada em maio de 2005. Mas o trio formado por Rodrigo Gorky, Pedro D?Eyrot e pela vocalista Marina Ribatski acabou conhecido através da internet com os funks Melô do tabaco, Melô do Vitiligo?e Dança da ventuinha, disponíveis no site www.-myspace.com/bondedorole. ?Fui ludibriada por esses dois. A gente ia fazer uma banda de electro e acabou fazendo uma banda de funk??, brinca Marina.

A garota é a vocalista que não quer dançar igual às ?popozudas?? cariocas. Seu visual é o oposto do chavão funk: camiseta, calça jeans e cabelo pintado de vermelho, no melhor estilo ?riot girl?. ?Tocamos semana passada em São Paulo abrindo para o DJ Marlboro. Umas meninas na frente do palco ficaram estarrecidas gritando essa mina não dança nada!??, conta a vocalista.

As semelhanças com o funk do morro, pelo jeito, param nas letras e no sotaque dos vocais. Na verdade, o Bonde parece fazer questão de não ter afinação nenhuma com seus colegas fluminenses. ?O Marlboro só foi simpático conosco em São Paulo porque o Dudu Marote e o Diplo estavam do nosso lado. Mas acho que no fim ele gostou e viu que não é só ele que consegue fazer funk??, atira Gorky, comentando sobre o DJ Marlboro, o mais conhecido porta voz do estilo fora do Brasil.

Gorky, além da língua afiada, é DJ carimbado do underground curitibano, responsável por uma das festas mais tradicionais desse gueto na cidade, a All Starz. Pedro está delineando um belo caminho como produtor, e seu projeto solo, o Deviant Kid 001, rendeu músicas que se fossem produzidas em qualquer canto obscuro da Europa já o teriam alçado as cases dos top DJs de electro. ?Agora eu e o Pedro estamos utilizando tudo o que sabemos para fazer remixes. Vamos fazer um oficial do Cansei de Ser Sexy e um do Edu K, que devem sair nos EUA e na Alemanha??, diz Gorky, acrescentado que isso ainda é ?segredo?.

Aliás, as semelhanças com os paulistas do Cansei de Ser Sexy, o maior fenômeno pop brasileiro em 2005, não param nas releituras de música. Shows nos EUA e na Europa já estão sendo negociados para levar o Bonde, o Cansei e o DJ e produtor americano Diplo para mostrar o que o Brasil está fazendo de bom, mesmo que muita gente ainda torça o nariz para essas bandas. Diplo, vale salientar, é responsável pelo sucesso da funkeira singalesa M.I.A., que no ano passado fez sucesso cantando em inglês sobre uma faixa da carioca Deise Tigrona.

Mas dessa vez o produtor escolheu os curitibanos do Bonde para ser o primeiro lançamento de seu novo selo, o Mad Decent (www.maddecent.com). O Melô do tabaco, juntamente com um remix feito por Diplo e outras seis faixas, foi lançado nos EUA em vinil, semana passada, já disponível nas melhores lojas on-line do gênero. Promos do disco foram estrategicamente distribuídos entre DJs americanos, europeus e até na Ásia.

E, como toda banda a caminho da fama, o Bonde do Rolê também já tem alguns mitos que os tornam mais simpáticos ao público, principalmente o internacional. ?O Diplo mandou a gente dizer que nos conheceu na rua cantando funk em boom box (ato de imitar o som dos instrumentos com a boca) pedindo dinheiro para comprar cigarro. Essa é a versão que vai sair na Rolling Stone. Mas a verdade é que o Fred (da banda Comunidade Ninjitsu) ouviu uma música nossa na internet e mostrou pro cara?, diverte-se Gorky. Dica: melhor aproveitar para ver o verdadeiro funk curitibano da gema e a banda paulistana Cansei de Ser Sexy enquanto há tempo. Porque daqui para o mundo, é um pulo.

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