Para a escritora italiana Agiaba Scego, escrever é um ato político, especialmente nos tempos que correm. “Na Itália, estamos vivendo um momento de racismo feroz. Tivemos vários casos de racismo recentemente. Ontem (quinta-feira) mesmo um homem atirou de dentro de sua casa contra um rapaz de Cabo Verde, que estava trabalhando num andaime. E depois disse que queria acertar os pássaros. Esses episódios não são de hoje, mas estão aumentando”, conta a escritora na mesa Minha Casa, no início da tarde desta sexta-feira, 27, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Autora do romance Adua e do ensaio Caminhando contra o Vento, um ensaio sobre seu ídolo Caetano Veloso, publicados pela Nós, ela explica que começou a escrever “para tirar essa língua do poder, a língua de quem atira, mas também a língua de quem escreve nos jornais, dos que dizem que você é clandestino”.
Igiaba é organizadora de duas coletâneas de textos de refugiados. Uma delas é 1938, título que faz referência ao ano da instituição de leis anti-semitas. “A gente se pergunta como uma coisa dessas pôde acontecer no passado. Está acontecendo hoje, diante dos nossos olhos.”
O poeta Fábio Pusterla, que tem uma antologia publicada no Brasil pela Macondo, disse que o romance é uma ferramenta de ação direta e que a poesia é diferente – mas que pode tentar questionar as palavras, seus sentidos e a visão de mundo construída através das palavras. Sobre o mundo hoje, diz: “Certamente estamos vivendo uma época atroz, em que a política de direita, quase abertamente fascista, está conquistando o poder. E, para isso, se apoia no medo. Não podemos pensar que o mundo pode continuar por mais um século com tantas injustiças. Este momento tão difícil poderia ser uma transição para alguma coisa que ainda não conhecemos”.
A mesa teve mediação da escritora Noemi Jaffe e a programação da Flip 2018 segue até domingo, 29.