O estilista mais pop do Brasil tem um nome que antigamente todos tinham dificuldade para pronunciar mas hoje não há uma pessoa que não saiba soletrar corretamente. Um nome fortíssimo da moda brasileira e conhecido em vários países. Alexandre Herchcovitch, esse canceriano de 37 anos, nascido em São Paulo e que adora montanha-russa, está sempre criando. Seu contato com o mundo da moda começou ainda criança, com o convívio com sua mãe Regina, que o ensinou princípios básicos de costura.
Aos treze anos já criava roupas para ele e para a mãe, que tinha uma pequena confecção de lingeries. Estava nascendo um grande estilista, ou melhor, um grande artista, capaz de criar ao mesmo tempo roupas para grifes e pessoas distintas, se apresentar como Dj, escrever livros, montar figurinos de filmes e novelas e ainda arranjar tempo para ser diretor criativo do Bacharelado em Design de Moda do Senac São Paulo. Um estilista de visão, que sonha alto e que vê na moda uma forma de expressão. Sua versatilidade e criatividade surpreende. De estampas de caveira (sua marca registrada), passando por roupas para prostitutas e travestis, pecas clássicas de alfaiataria, à camisetas com motivos de Walt Disney. Estilo esse que conquistou Tóquio, a primeira cidade fora do Brasil a receber uma loja própria do estilista. Em uma entrevista coletiva realizada no Senac, em São Paulo, Alexandre Herchcovitch respondeu perguntas sobre carreira, moda e falou o que deu errado na hora da venda de sua marca ao grupo Identidade Moda, no fim do ano passado. Mas não quis nem saber de comentar sobre sua coleção de verão 2009, que ele apresenta no próximo São Paulo Fashion Week (SPFW), que acontece de 17 a 23 de junho.
P – Como você escolhe os temas das suas coleções?
Alexandre Herchcovitch – Normalmente são temas ligados a situações que eu gosto e que tem a ver com o universo da marca.
P – O que te inspira?
AH – Acho que o que mais me inspira é a própria construção da roupa. Eu e a minha equipe escolhemos o tema da coleção e a construção da matéria me inspira pra continuar a desenvolver esse tema.
P – Quais foram os desfile mais marcantes da sua carreira até agora?
AH – O meu primeiro desfile foi em 1994. De lá pra cá foram 40 coleções, então é muito difícil eu te falar um porque cada um marcou por algum motivo. Mas eu lembro da primeira coleção que eu me envolvi a fundo em alfaiataria. Foi um desfile importante pra mim porque a gente só consegue perceber se o estilista realmente entende bem de roupas, quando ele entra por esse caminho. Então pra mim foi um desafio e hoje a minha marca é reconhecida pela alfaiataria. Outro marcante foi o desfile que eu fiz na passagem do ano 1999 pra 2000. A gente fez uma coleção inspirada no que os cientistas dos anos 60 achavam que iam acontecer em 2000. E no ano 2000, quando eu separei as coleções em feminino e masculino, eu fiz uma coleção masculina toda em miniatura. Colocamos crianças de 6 a 10 anos para desfilar. Tem a coleção que eu me inspirei no Zé do Caixão também, viu só, tem várias! (risos).
P – As suas coleções atuais têm a ver sempre com as anteriores?
AH – Não necessariamente, mas existe uma coerência muito grande entre elas porque as minhas coleções tem a ver com aquilo que eu gosto e que eu acredito.
P – Você pode adiantar pra gente como será a sua coleção que você irá apresentar no próximo São Paulo Fasion Week?
AH – Não.
P – Como você consegue criar para diferentes grifes ao mesmo tempo? (Alexandre já foi diretor criativo da Cori e da Zoomp. Hoje ele cria somente para a sua marca.)
AH – Tem que manter sempre a identidade da marca. Por exemplo, a Cori quando eu comecei a trabalhar lá, ela estava completando 50 anos de vida. Eu tive que aprender o histórico da marca, entender a cliente e saber aonde a marca queria chegar. Então eu aprendi e dei a minha visão do que seria a Cori pelas minhas mãos. Tenho certeza que deu certo.
P – Você acha que teria seguido outra carreira se a sua mãe não fosse costureira?
AH – Eu via a minha mãe costurar pra ela com uma máquina caseira, pegar um tecido, cortar, fazer uma roupa sob medida e vestir no mesmo dia. Acho que foi aí que eu me atraí pela construção de uma roupa. Eu não consigo te dizer exatamente quanto foi a influencia dela, mas tenho certeza que a convivência com essa profissão dentro de casa foi importante porque eu quis começar a fazer roupa muito cedo. Com 13 anos eu já fazia roupa para mim e para ela.
P – Muitas pessoas querem ser estilistas hoje. Você acha isso bom ou ruim?
AH – Esse ?boom? aconteceu com a publicidade nos 80. Eu acho que o Brasil consegue absorver muitos profissionais de moda. O País tem milhares de confecções, malharias que precisam de bons profissionais. O que as pessoas tem que entender é que não existe só a profissão de estilista, você pode se formar e trabalhar em diversas áreas dentro de uma empresa de moda.
P – Você teve dificuldades no começo de carreira?
AH – Acho que no começo eu enfrentei dificuldade como qualquer pessoa que inicia qualquer carreira. Acho que a maior dificuldade é o estilista conseguir criar a identidade da sua marca.
P – Quais são seus sonhos?
AH – Eu tenho um sonho de profissionalisar a minha empresa. Isso é o sonho que eu mais to perseguindo e lutando hoje. Eu cansei de ter uma empresa que não é completamente organizada, então isso tá me consumindo muito. Eu tô passando por um processo de profissionalização bastante sério na minha empresa. Eu pretendo expandir meus negócios dentro e fora do Brasil. Eu gostaria de criar mais, modelar mais, mas eu só vou conseguir fazer isso quando eu profissionalizar a minha empresa e tiver mais tempo.
P – Como está sendo esse processo de profissionalização?
AH – A maioria das empresas de moda iniciaram de uma maneira muito familiar. Eu acho que tem que haver essa profissionalização. Isso não quer dizer que uma empresa familiar não pode ser profissional. A indústria da moda no Brasil é muito recente. Tem muito marca e estilista fazendo do jeito que dá, eu também estou fazendo do jeito que dá. Eu fui crescendo, apostando todo o meu dinheiro naquilo que eu acreditava, investindo, e chega uma hora que se você não profissionaliza você fica parado, do mesmo tamanho, patinando.
P – No começo do ano você anunciou que tinha vendido a sua marca ao grupo Identidade Moda (I?M) e depois voltou atrás, por que?
AH – Porque eles não tinham dinheiro para pagar.
P – Saiu uma nota na Veja há duas semana atrás dizendo que você havia se associado a outro grupo, é verdade?
AH – Não estou associado a ninguém.
P – O que te faz feliz?
AH – Acho que ser feliz é conseguir fazer aquilo que você sonha, e não to dizendo de grandes sonhos. Por exemplo, quando eu penso: ?amanhã eu quero acordar ao meio-dia?, e eu consigo fazer isso, eu fico feliz. Acho que a felicidade está nas pequenas coisas. E também estar sempre perto dos amigos, família, fazer o que gosta e buscar um pouco de paz e tranqüilidade.
P – É verdade que você adora montanha russa?
AH – Sim, adoro parques de diversão. Sempre que inaugura uma montanha russa nova eu marco uma viagem para ir especificamente conhecer.
P – Qual a diferença de moda e estilo para você?
AH – Moda pra mim é expressão, é o meio que eu me expresso. Estilo não tem a ver com a roupa, tem a ver com modo de viver, comportamento, educação.