Marlon Brando, um dos atores mais importantes de todos os tempos, morreu aos 80 anos, informaram na sexta-feira as agências de notícias americanas, citando o advogado do ator. Um amigo da família disse ao canal de TV Fox News que Brando morreu na noite de quinta-feira, às 18h20, de insuficiência respiratória. O ator vivia sozinho num bangalô de um quarto, que fica na Mullholland Drive, em Los Angeles. No livro, um visitante anônimo descreve a casa como “claustrofóbica”, com cortinas de contas, típicas dos anos 70, e sofás velhos.
No início desta semana, o jornal inglês The Sunday Times publicou que o ator estaria falido. Com base no livro Brando in twilight, de Patricia Ruiz, que será lançado no segundo semestre deste ano, o jornal afirma que, afetado por hábitos de consumo caros, crises familiares e batalhas judiciais, Brando teria dívidas em torno de US$ 20 milhões, e estaria vivendo seus últimos dias às custas de uma pensão do sindicato dos atores e da Previdência Social.
Para piorar, a ex-empregada de Brando, Cristina Ruiz, ameaçava reabrir um processo, exigindo do ator US$ 100 milhões. Ruiz argumenta que o ator quebrou acordos, segundo os quais teria que pagar uma pensão de US$ 10 mil a ela, por mês, para sustentar suas três crianças.
Brando nasceu em 3 de abril de 1924, em Omaha, no estado americano do Nebraska. Ele era o terceiro e último filho de Dorothy Pennebaker Brando e Marlon Brando, descendentes de imigrantes irlandeses. Em 1935, o casal se separou, e a mãe se mudou com os três filhos para Santa Ana, na Califórnia. Em 1937, os pais se reconciliam, e a família se muda para Libertyville, em Illinois.
Em 1940, o jovem Marlon vai para um colégio interno militar, a Shattuck Military Academy em Fairbult, Minnesota, de onde ele acaba sendo expulso por insubordinação. Em 1943, Brando chega a Nova York e se matricula num curso de teatro na New School for Social Research, então dirigida pelo alemão Erwin Piscator. Estréia no palco em 1944, na peça Hannele, de Gerhart Hauptmann. No mesmo ano, faz a primeira aparição na Broadway, numa montagem de I remember Mama.
Em 1947, o diretor Elia Kazan escala Brando para estrelar Uma rua chamada pecado (como foi chamado em português o filme A Streetcar Named Desire), versão cinematográfica da peça Um bonde chamado desejo, de Tennesee Williams. Como o filme só saiu em 1951, a estréia do ator nas telas foi um ano antes, com Espíritos Indômitos (Battle Stripe), de Ken Wilcheck.
Brando foi indicado sete vezes ao Oscar de melhor ator: em 1951, por Uma rua chamada pecado; em 1952, por Viva Zapata!; em 1953, por Júlio César; em 1954, por Sindicato de Ladrões (On the Waterfront); em 1957, por Sayonara; em 1972, por O Poderoso Chefão (The Godfather) e em 1973, por O Último Tango em Paris (Last tango in Paris). Venceu em 1954 e 1972, quando recusou o prêmio, em protesto contra o tratamento recebido pelos índios americanos.
Brando teve onze filhos com suas três esposas e com outras mulheres, incluindo a empregada Cristina Ruiz.
Marlon Brando se aproximou dos atores ingleses
Alex Gutenberg
Ano desses, numa dessas pesquisas promovidas por sites, ou por revistas de cinema, ou ainda por algum jornal americano, Dom Corleone foi escolhido como o mais importante personagem da história do cinema. Pode ser. Eu diria que foi o mais famoso. O mais importante seria um exagero.
Marlon Brando interpretou outros tipos difíceis e sempre se saiu muito bem. Além disso, ele era bonito. Extremamente bonito. Acredito que Terry Malloy, seu personagem em Sindicato dos Ladrões, foi a obra prima de sua carreira. Brando tinha trinta anos em 1954 quando foi dirigido por Elia Kazan nesse filme sobre a máfia, sindicatos, estivadores e malandragens à beira-mar. Trinta anos, mas com aparência de adolescente.
“I could have been a contender, I could have been a contender”, lamentava Terry numa cena no banco de trás de um táxi, ao seu irmão (Rod Steiger), vendido para a máfia.
Brando chorava em seco, revelando aquela dor contida do desespero de quem perdeu algum ente querido ou uma oportunidade de ouro. Ele poderia ter se tornado um futuro campeão de boxe, mas teve de entregar lutas para alimentar os interesses da cosa nostra e do sindicato. Durante todo o filme, Marlon Brando, que havia estreado no cinema apenas 5 anos antes, apanhou e bateu, física e moralmente, chorou, amou, revelou suas necessidades emocionais, traiu, fugiu e passou em todos os testes dramáticos possíveis. Ganhou o Oscar de 1954 pela interpretação, contracenando com pesos pesados do cinema como Karl Malden, Rod Steiger e Lee J.Cobb.
Marlon Brando começou no cinema em 1950, no filme Espíritos Indômitos. Em 1948, ele passou nos testes para ser Stanley Kowalsky, um personagem difícil, da peça Um Bonde Chamado Desejo de Tennesse Williams. A belissima atriz inglesa Jessica Tandy seria a Blanche Dubois. “Nunca conheci um ator tão talentoso e tão belo”, disse ela. Um par perfeito. Ganhou Hollywood nesse filme, e dali em diante, ele se tornou o Vito Corleone, o Kurt, Zapata, Júlio César, Dr. Moreau, Dom Juan, o Último Tango e assim vai. A lista é enorme.
Como sempre, uns dizem que ele era chato, bêbado e que incomodava o elenco inteiro de qualquer filme. Outros o consideram um gênio. Para mim, ele foi o maior ator americano do século 20 nas telas ou no teatro, interpretando personagens clássicos ou tipos exóticos. Para Robert Duvall, grande amigo e companheiro em Apocalipse Now, Brando foi o melhor e maior dos atrores. Melhor mesmo que os ingleses. Falando sério, o caipira Brando de Omaha, Nebraska foi o ator que mais se aproximou dos três grandes do cinema e do teatro inglês, Lawrence Olivier, Ralph Richardson e John Gielguld. Divertiu muito a gente. Ainda bem que existem os DVDs.