O jovem Che Guevara de Salles

Houve momentos em que duvidou de sua capacidade para interpretar o jovem Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta. Embora o filme de Walter Salles seja sobre o jovem Che, antes de se tornar o revolucionário que virou um dos maiores ícones do século 20, a carga sobre Gael era imensa. O filme estréia no dia 7 nos cinemas brasileiros. Aos 25 anos, o ator mexicano está no auge da carreira. Ele estará duplamente em Cannes – no filme de Pedro Almodóvar La Mala Educación, que vai abrir o festival no dia 12, e em Diários de Motocicleta, que terá sua sessão de gala no dia 19. Gael García Bernal esteve na segunda-feira em São Paulo e concedeu a entrevista:

P – Como recebeu o convite de Walter Salles para interpretar o jovem Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta?

Gael García Bernal

Fiquei contente, mas também um pouco assustado. Quando foi convidado por Robert Redford para dirigir o filme, Walter lhe disse que um filme assim só poderia ser feito com atores de língua espanhola, falado em espanhol.

P – Qual foi sua maior dificuldade ao interpretar o jovem Ernesto?

Gael

– Tudo foi difícil e, ao mesmo tempo, formávamos uma equipe muito integrada, como se fôssemos uma família, e isso facilitava as coisas. Tínhamos feito uma pesquisa muito grande, eu ouvira centenas de vezes os discursos do Che e queria recriar a voz dele.

P – Você passa essa emoção. Há cenas lindas, como aquela em que você tenta romper o bloqueio da garota no leprosário. A doença a está consumindo, ela se recusa a fazer uma operação. E Ernesto, com grande delicadeza, faz a ponte que traz a garota para o mundo.

Gael

– Que lindo ouvir isso. O filme foi feito com muito amor. Ninguém foi o mesmo depois de Diários de Motocicleta.

P – O que mudou em você?

Gael

– A maior lição que tive com Ernesto foi a de que é preciso viver com integridade e coerência. E que, apesar das diferenças, nós, latino-americanos, temos uma identidade muito forte.

P – Vamos a um exemplo prático – você fez um belo discurso contra a guerra na cerimônia do Oscar do ano passado, ao anunciar a canção de Frida, que concorria ao prêmio da categoria. Você estava imbuído do espírito do Che?

Gael

Se não estivesse fazendo o jovem Ernesto, poderia até dizer tudo aquilo, mas seria num outro tom. Aquele foi um momento especial. Estava de penetra numa festa que era da indústria americana, numa sociedade que difunde o consumismo e a guerra.

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