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‘O Homem de La Mancha’ volta aos palcos com participação de Fafá de Belém

A gargalhada denuncia sua chegada – sonora, alegre, contagiante, a risada de Fafá de Belém se tornou uma marca da sua identidade. Pois é justamente ela, em altos decibéis, que anuncia ao elenco e à produção do musical “O Homem de La Mancha” que Fafá já está no teatro. É tarde de sábado, dia 4, e a cantora vai participar de seu primeiro ensaio no espetáculo. Depois de uma temporada de sucesso em 2014, “O Homem de La Mancha” volta aos palcos na quinta, 9, no Teatro Alfa, e, em sua primeira semana, terá Fafá como convidada especial, no papel da Criada. “Desde que completei 40 anos de carreira, em 2015, decidi que faria muitas coisas até então inéditas para mim e uma delas foi aceitar esse convite”, conta ela.

No ensaio, acompanhado pela reportagem, Fafá já deixou claro que não impedirá a presença de sua gargalhada no musical, aliás já incorporada em alguns momentos apropriados para ela. No dia anterior, a cantora havia passado as falas com o diretor do espetáculo, Miguel Falabella, mas era ali, naquele instante, que ela faria os primeiros testes acompanhada do elenco que, já no primeiro momento, abraçou a convidada, divertindo-se com sua espontaneidade. “Seu talento cômico é muito forte e isso tem de aparecer em cena. A Criada é uma falsa beata e não consegue esconder seu lado lascivo”, observou Ludmilah Anjos, talentosa atriz e curiosamente também dotada de uma risada contagiante. Ela será a titular do papel, quando Fafá não estiver em cena.

Apesar de inicialmente insegura com a marcação, Fafá aos poucos assume o controle e até incorpora novos gestos já no primeiro número, É Tanta Preocupação. “Minha formação é teatral, fiz diversas peças e, em todos meus shows, trago para o palco essa experiência cênica”, conta ela, que precisou fazer um malabarismo em sua agenda até achar uma brecha que a liberasse para o musical. “Quem teve a ideia de convidar a Fafá foi o (Carlos) Cavalcanti, no final do ano passado”, conta Cleto Baccic que, além de ser o protagonista de “O Homem de La Mancha”, no papel de Cervantes/Quixote, também é sócio de Cavalcanti na produtora Ateliê de Cultura, responsável pelo musical. “Nunca nos esquecemos da presença marcante dela no programa especial do Roberto Carlos, em 2009, e tínhamos a certeza de que ela se sairia bem.”

A proposta foi levada a Miguel Falabella, que também se empolgou. “Ela tem uma energia e entrega únicas, além da dose de loucura necessária”, afirma ele, que fez o convite. Fafá não demorou a responder. “Entre 1970 e 73, morei no Rio de Janeiro e logo conheci pessoas como José Wilker, Rubens Corrêa, atores que protagonizavam uma efervescência cultural. Como eu era uma adolescente grandona, conseguia ver todas as peças, mesmo as impróprias para a minha idade, e isso me encantou”, lembra Fafá. “Ao voltar a Belém, descobri que a cidade ficara pequena demais para minhas ambições. Mesmo assim, frequentei cursos de teatro e acabei estreando como atriz ao lado do Cacá Carvalho. Fiz peças como Os Sete Gatinhos. Também tive aulas com Amir Haddad, que ampliaram minha visão cultural.”

Tamanha bagagem já a direcionava naturalmente para o palco, mas Fafá, que pretendia estudar psicologia, enveredou para a música. “Tornei-me cantora, mas nunca abandonei o ensinamento que tive no teatro”, conta. “Tanto que a direção do meu primeiro show foi de Fernando Peixoto, um homem essencialmente do teatro. Logo, descobri que verdade das músicas que canto está na palavra. Se não acredito na letra, não consigo cantar.”

Foi essa crença que a deixou em prantos quando assistiu aos primeiros ensaios do De La Mancha. “Principalmente quando é cantado O Sonho Impossível”, aponta Fafá, referindo-se ao grande hit do musical, que ganhou vida própria e, no Brasil, foi gravado por Maria Bethânia, entre outros. No sábado, quando finalmente subiu ao palco, a cantora entrosou-se rapidamente com o elenco de 29 atores. “A força desse coletivo não existe mais na música, onde se está cada vez mais sozinho”, observou.

A nova temporada do espetáculo traz ainda grandes nomes da primeira versão, como o próprio Baccic (premiado pela pungente interpretação), Sara Sarres (impecável como Aldonza/Dulcinéia), além de Jorge Maia (Sancho), Frederico Reuter (Padre), Guilherme Sant’Anna (Governador) e Carlos Capeletti (Duque), entre outros. E ganhou reforço de outros atores notáveis do musical brasileiro como Bianca Tadini (que empresta sua bela voz a Antonia) e André Loddi (forte presença como Sansão).

Encenado pela primeira vez na Broadway em 1965, “O Homem de La Mancha” logo se tornou um clássico popular, por unir a sofisticação de suas composições musicais com uma trama profundamente lírica, teatral. Miguel Falabella, no entanto, promoveu uma livre adaptação da obra de Dale Wasserman, com músicas de Mitch Leigh e letras de Joe Darion. Sempre em busca de um toque de brasilidade no espetáculo, sua grande sacada foi se inspirar no trabalho do Bispo do Rosário como ponto de partida da concepção do espetáculo, tanto no cenário de Matt Kinley (britânico) e David Harris (americano), como nos originalíssimos figurinos de Cláudio Tovar.

E, enquanto na Broadway o espetáculo foi marcado por uma orquestra sem instrumentos de cordas (com a exceção de um contrabaixo), a versão nacional conta com dois violonistas especializados em melodia espanhola, genial detalhe incorporado pelo diretor musical Carlos Bauzys. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O HOMEM DE LA MANCHA

Teatro Alfa. R. Bento Branco de Andrade Filho, 722. 5ª, 21h. 6ª, 21h30. Sáb., 17h e 21h. Dom. 17h. R$ 50 / R$ 190. Até 28/5. Estreia 9/3

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