O Casanova às avessas do dramaturgo espanhol Fernando Arrabal volta a surpreender o público paulistano – depois de uma temporada no Auditório Augusta no ano passado, a peça “O Grande Cerimonial” retoma hoje sua temporada, agora no instigante palco arena do Teatro Eugênio Kusnet. Uma rara e feliz oportunidade para novamente entrar em contato com uma obra provocadora.

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Escrito em 1963 e inédito no Brasil até surgir essa montagem do grupo Teatro Kaus, o texto oferece um jogo de oposições: entre o belo e o grotesco, a vida e a morte, o sonho e a realidade, a fantasia e os pesadelos. Trata-se da história de um homem feio e corcunda, Cavanosa (Alessandro Hernandez, em elogiada interpretação), que mantém relações contraditórias com mulheres, bonecas e a própria mãe (Debborah Scavone). O cerimonial acontece quando ele encontra a Mulher-Menina (Amália Pereira), a pureza profana que com Cavanosa irá desbravar o mundo. O elenco se completa com Angelo Coimbra, no papel do namorado da Mulher-Menina.

“É um texto com fortes traços biográficos, pois Arrabal se vê parecido com Cavanosa”, observa o diretor Reginaldo Nascimento, que mantém contato constante com Arrabal desde 2007. “Meu desejo de falar do amor, ou melhor, deste amor que oprime os homens, tortura e mata, me conduziu para este cerimonial que, a meu ver, consegue colocar em cena de certa forma todas as personagens da vida deste Arrabal: o pai com quem ele mal conviveu, a mãe opressora. O próprio Arrabal poderia ser o Cavanosa oprimido e torturado pela mãe e que busca no mundo externo motivos e pessoas que possam compreender todo seu mundo de fantasia e pesadelo.”

Autor de romances e poesias, o dramaturgo, que completa 79 anos em agosto, notabilizou-se por peças como “O Arquiteto e o Imperador da Assíria” (1966), “Fando e Lis” (1955) e “Cemitério de Automóveis” (1959), cuja montagem paulista de Victor Garcia, em 1968, praticamente decretou a maioridade do teatro de vanguarda no Brasil.

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“O que me empolga em sua obra é que Arrabal vai direto ao ponto, é um orgasmo, seus textos resistem porque falam do ser humano real e verdadeiro, sem meias palavras”, comenta Nascimento. “O frescor de sua obra está em mostrar este mundo de fantasias que muitos acreditam viver, quando estão à beira do precipício dos seus mais ternos pesadelos. É um olhar sobre o homem oprimido, esmagado sob a dor, a violência e o amor sem limites, tudo sem clichês.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Grande Cerimonial – Teatro de Arena Eugênio Kusnet (Rua Dr. Teodoro Baima, 94, Consolação). Tel. (011) 3256-9463. Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 20. Até 03/07.

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