Uma arte considerada democrática, dotada de linguagem bastante própria e que tem o espaço urbano como palco principal. Assim é o graffiti, um tipo de manifestação, ligada ao movimento hip-hop, que vem ganhando cada vez mais espaço nas grandes e pequenas cidades do mundo e que, aos poucos, vem sendo reconhecida como uma importante expressão da arte contemporânea.
Do próximo dia 30 até 7 de setembro, o trabalho de grafiteiros de diversas partes do Brasil e de países estrangeiros deve ganhar destaque na I Bienal Internacional de Graffiti de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O evento – que será composto por exposições, seminários, ateliês abertos e apresentações musicais – visa justamente o reconhecimento do graffiti como um fenômeno artístico mundial onde os jovens podem compartilhar com a sociedade suas idéias éticas, estéticas e ideológicas.
Graffiti é uma palavra italiana inicialmente utilizada para se referir a pinturas rupestres. Por isso, considera-se que a arte do graffiti surgiu na pré-história e, ao longo dos anos, vem passando por diversos países onde existem inscrições públicas anônimas. A partir da década de sessenta, a manifestação ganha uma conotação mais específica e se torna uma linguagem utilizada pela juventude como forma de protesto contra a opressão. No Brasil, era utilizada no combate à ditadura militar (1964-1985).
“Na década de oitenta, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e em Londres (na Inglaterra), a imagem começa a ser agregada ao universo de letras do graffiti. A partir desta época, a arte se torna mais próxima da pintura e também ganha uma conotação de demarcação de território nas grandes cidades”, conta o artista plástico, idealizador e coordenador da Bienal de Belo Horizonte, Rui Santana, que está envolvido com o graffiti há cerca de dez anos.
O preconceito que gira em torno do graffiti se deve ao fato de a arte ser confundida com a pichação. A principal diferença entre a grafitagem e a pichação é que esta é uma forma de vandalismo, enquanto no graffiti se reconhece qualidade artística. “O preconceito em relação ao graffiti sempre existiu e continua existindo em diversas partes do mundo. Entretanto, noto que, atualmente, no Brasil, a sociedade está mais preparada para absorver a nossa arte. As pessoas não têm fechado os olhos para o alto nível técnico dos artistas brasileiros”, comenta o artista plástico e grafiteiro de São Paulo, Binho Ribeiro, de 37 anos, que também é curador da Bienal.
Como o graffiti é uma arte de rua, é complicado dizer que um artista sobreviva da grafitagem. Entretanto, muitos conseguem obter renda de coisas que existem ao redor do graffiti, como a realização de oficinas culturais, exposições e trabalhos realizados na área de publicidade.
Curitiba
Na capital paranaense, o graffiti também vem ganhando destaque ao longo dos últimos anos. Segundo o grafiteiro curitibano David Reis, de 23 anos, que começou com a grafitagem há cerca de oito anos, muitas pessoas que começaram no graffiti passaram a se interessar por outros tipos de artes visuais e hoje desenvolvem trabalhos com design, videoarte, entre outras manifestações. “Eu mesmo sou um exemplo disso. Comecei a me interessar pelo graffiti há oito anos e hoje estudo artes plásticas e atuo como arte-educador”, afirma.
Em Curitiba, também são realizadas oficinas de graffiti. Muitas delas são promovidas pela organização não governamental Iddeha (Instituto de Defesa dos Direitos Humanos). De outubro do ano passado até o último mês de julho, a entidade, em parceria com a prefeitura municipal, realizou uma oficina para sessenta jovens da periferia, com idades entre 14 e 18 anos.