Simone Spoladore deixou a terra natal para tentar a vida em um outro lugar. A advogada Heloísa, interpretada pela atriz em América, também. As semelhanças entre atriz e personagem, no entanto, param aí. Simone, que deixou a casa dos pais em Curitiba para morar em São Paulo e depois no Rio, reconhece que uma nova vida em uma nova cidade ou país é marcante na vida de qualquer pessoa. ?No começo, fiquei muito introspectiva com a mudança de cidade. Foi difícil. Agora, que já moro no Rio há três anos, eu estou mais tranqüila?, conta a atriz, que admite que essa experiência ajudou na construção da personagem.

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As mudanças na vida de Simone Spoladore, porém, foram bem diferentes das que ocorreram no destino de sua personagem na novela das oito. Simone classifica a Heloísa como uma mulher passiva diante do marido Neto, interpretado pelo ator Rodrigo Faro. Ao contrário de Heloísa, que deixou sua carreira em segundo plano para seguir com o marido e o filho para Miami, Simone migrou para o eixo Rio-São Paulo a fim de ampliar as possibilidades na carreira. ?É importante você manter sua individualidade, seus desejos, suas vontades em uma relação amorosa. Não se pode abrir mão de tudo?, avalia a atriz de 26 anos.

Se a ida de Heloísa com a família para Miami acabou desgastando seu casamento, os riscos que Simone Spoladore correu ao sair de Curitiba valeram a pena. Com apenas 17 anos, ela chegou a São Paulo em 1996 para estudar teatro. A aprovação nos testes, dois anos depois, para viver a impulsiva Ana, no filme Lavoura Arcaica, foi o passaporte para uma maior exposição na mídia. Em 2000, ela foi convidada para interpretar a personagem Maria Monforte na minissérie Os Maias. Além desses dois trabalhos, Simone Spoladore trabalhou, entre outros, no filme Desmundo e na novela Esperança, e acabou associada a personagens fortes em tramas de época. ?Eu mesma estava curiosa por saber como seria fazer uma personagem mais contemporânea. É um exercício diferente. No trabalho de época, você tem mais condições de elaborar o personagem. Em um papel mais atual, você tem de ser mais espontâneo, menos programado?, explica.

Fortes emoções

A identificação com personagens fortes e de época não incomodam a atriz. A tal ponto que ela não consegue dizer com qual deles teve maior afinidade. Ao contrário, ela prefere ver qualidades em cada um desses ?filhos? que, segundo a atriz, sempre deixam alguma marca. ?Cada um revela alguma coisa sobre você. Até a Heloísa revela coisas sobre mim?, acredita. Sua mais nova cria, a Heloísa, não tem a personalidade forte de papéis anteriores. Mas também não permite que a atriz se queixe de falta de emoções fortes na bagagem. Primeiro, em função da mudança para os Estados Unidos e o conseqüente desgaste em seu casamento. Mais recentemente, o filho Rique, interpretado por Matheus Costa, foi raptado por um pedófilo. O fato é a gota d?água que vai transbordar para uma nova atitude da personagem, o que pode se traduzir no retorno ao Brasil e o fim de seu casamento. ?Ela está anunciando que vai voltar para o Brasil. Eu torço para isso porque pode ser uma reviravolta na personagem, um outro momento?, espera.

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A mudança de atitude, por sinal, pode ser mais um dos escassos paralelos entre atriz e personagem. A outrora tímida e recatada Simone Spoladore vem, aos poucos, se soltando. Afinal, a introspecção não é exatamente o que se espera de uma atriz. ?Às vezes, sou mais reservada mesmo, mas me acho a falsa tímida. Até faço um esforço para ficar mais aberta e está dando certo. Eu estou mais expansiva?, arrisca.

No cinema, a ?sina? das mulheres fortes

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Simone Spoladore não sabe porque é requisitada para tramas de época. A atriz também já viveu muitas vezes personagens de temperamento forte e impulsivo. Talvez pelo rosto expressivo e o olhar contundente. Simone, contudo, jura que não sabe. ?Sinceramente, não sei qual é a visão que têm de mim e o porquê de ser freqüentemente convidada para esse tipo de papel?, esquiva-se. Fato é que, desde Lavoura Arcaica, de 1998, ela vem ?enfrentando o mundo?. No filme de Luiz Fernando Carvalho, baseado na obra de Raduan Nassar, ela é Ana, uma filha rebelde de imigrantes libaneses que vive uma situação incestuosa com o irmão. Em 2002 o cinema lhe proporcionou outro papel de impacto. Em Desmundo, de Alain Fresnot, a atriz faz Oribela, órfã portuguesa trazida para o Brasil em 1550 e obrigada a se casar com um colono interpretado por Osmar Prado. A menina acaba se envolvendo com Ximeno, comerciante de escravos vivido por Caco Ciocler.

Na televisão não foi muito diferente. Em Os Maias, minissérie de 2001 baseada na obra de Eça de Queiroz e também dirigida por Luiz Fernando Carvalho na época, namorado da atriz, ela interpretou a Maria Monforte jovem, na fase adulta, a personagem era vivida por Marília Pêra. No ano seguinte, veio sua primeira novela das oito e o papel que deu uma maior projeção à atriz: a Caterina, de Esperança, de Benedito Ruy Barbosa. Em comum entre os papéis, a personalidade marcante.