As peripécias da carreira de Paulo Silvino são tão numerosas quanto as piadas que ele já contou até hoje. O humorista cobriu vários carnavais na tevê, entrevistou Juscelino Kubitschek em meio à folia de 1968, substituiu o Chacrinha na época em que o velho guerreiro adoeceu e trabalhou com nomes que vão de Walter D?Ávila a Chico Anysio. Atualmente, interpreta o popular porteiro Severino, no programa Zorra Total. Nunca abandonou sua grande paixão, a música, e se apresenta pelos palcos cantando desde boleros a canções com letras cheias de duplo sentido. Mas a fama chegou fazendo o público rir. E como nasceu em uma família de artistas, nem teve tempo de pensar em outra coisa. ?Fui criado nos bastidores do teatro de revista. Não podia ficar na platéia, porque era menor de idade, mas ficava nos camarins ajudando as moças a trocarem o bustiê. Era a melhor parte?, recorda, com uma risada maliciosa.
P – São mais de 40 anos dedicados ao humor e o Severino, seu personagem no Zorra Total, é um sucesso. Como encara essa popularidade que passa por diversas gerações?
R – Ando pelas ruas e as pessoas me param, dizendo Olha o Severino!. A verdade é que eu não deixo o Paulo Silvino artista atrapalhar a minha vida de ser humano. Vou à esquina, tomo uma cerveja, mas não preciso andar com seguranças. Não me visto de artista na rua, só nos palcos ou na hora de gravar. Nunca tive a menor ambição de ser estrela. A única coisa que queria de quem é estrela é a grana. Queria ter um programa, colocar um monte de merchandising no meio e ganhar um salário de 400 mil reais.
P – Você já teve seu próprio programa na tevê e depois passou a ser presença fixa em programas de humor de outros apresentadores. Está satisfeito com o espaço que tem na televisão?
R – Não sei o que houve. Depois do TV Ó – Canal Zero, que marcou minha estréia na Globo e me deu dois prêmios de melhor comediante do ano, a emissora nunca mais me deu um programa. Mas sempre tive destaque, e muito. Na época do Viva o Gordo, tive quadros meus e cheguei a dividir quadros com o Jô Soares. Também apresentei a primeira fase do Planeta dos Homens. Agora não fico buscando os motivos de não ter um programa, não me interessa. Vou levando a minha vida.
P – O fato de ser filho de Silvino Neto, famoso cantor e humorista do rádio, e Naja Silvino, conceituada pianista, facilitou ou dificultou sua carreira?
R – Pelo fato de ser filho dos dois é claro que muitas portas já estavam abertas. Entrava na Rádio Nacional e na televisão a hora que eu quisesse. Lembro-me de brincar com o Pery Ribeiro nos corredores da rádio. Mas tive um padrinho, que foi o Carlos Imperial. Ele me deu chances, me levou para o cinema. Por outro lado, não ouvi, mas senti em alguns momentos aquele olhar de ?O filho do Silvino Neto acha que também é artista?. Isso sempre aconteceu e continuará acontecendo com filhos de artistas.
P – Você também tomou gosto pela música e já gravou discos, inclusive. Porque deu mais ênfase à atuação?
R – Prefiro cantar. Mas me meti em um negócio que não tem mais saída. Não tenho mais idade para chegar na Globo e dizer que não quero fazer o que faço. Aí vou viver do quê? Não estou cansado e gosto do que faço. Preferiria, no entanto, ter seguido a carreira de cantor. Quando a gente canta não é para os outros, é para a gente. Posso cantar com todo mundo conversando, mas não posso contar uma piada. Com a música posso tocar para três pessoas que vou estar me divertindo. Com o humor já é mais difícil.
P – Mas o humor também não o auxilia na vida? Ser humorista amenizou alguma coisa em momentos complicados, como o acidente com o seu filho Flávio Silvino, em 1993?
R – O humor ajuda muito na minha vida, é claro. Até no enfoque da minha relação com Deus. Na época do acidente do Flávio, minha conversa com Deus era interessante. Eu me sentava na beira da praia, em Cabo Frio, ficava olhando o pôr-do-sol e falando: ?Você (Deus) se meteu em uma enrascada. Porque agora todos estão rezando pelo meu filho. E você vai ter de curá-lo para não ficar desmoralizado. E vai ser bom para você. Pois colocou o cara praticamente morto e se ele fica bom todo mundo vai dizer que Deus é maravilhoso. Não tem saída, você vai ter que curar meu filho?. Tive momentos de mais revolta, mas o humor sem dúvida me ajudou.
