‘O Escaravelho do Diabo’, clássico infantojuvenil, chega aos cinemas em 2015

Um abraço de mãe e filho, ele no colo dela. Há tamanha ternura a emanar daquele quarto de uma chácara em Amparo, interior de São Paulo, capaz de tirar um sorriso do rosto concentrado de Carlo Milani, diretor estreante, na 38ª diária das filmagens de O Escaravelho do Diabo, adaptação do livro de Lúcia Machado de Almeida. “É muito bonitinho, não é?”, ele sussurra, enquanto faz um sinal ao assistente. “Corta!”, grita o outro. Clássico da literatura infantojuvenil, o livro lançado originalmente em 1972 ganhará uma versão cinematográfica depois de comprovar o sucesso ao longo de mais de quatro décadas e 27 edições – a editora Ática, responsável pela publicação do livro não revela o número de vendas ao longo dos anos.

Criado em uma coprodução entre a Dezenove Som e Imagens, da produtora Sara Silveira, e a Globo Filmes, e um investimento de R$ 5,8 milhões, o longa marca a estreia de Milani nas telonas, após duas décadas de trabalho na TV Globo e incursões no teatro. A previsão é que a adaptação chegue em circuito ainda neste ano – mais possivelmente no fim de 2015 -, com um elenco formado por Marcos Caruso, Jonas Bloch, Selma Egrei, Lourenço Mutarelli, Lara Córdula e protagonizado pelo também estreante no cinema Thiago Rosseti, uma estrela mirim com experiência em comerciais e nas telenovelas Amor e Revolução e Carrossel, ambas transmitidas pelo SBT.

“Serão seis semanas e meia de filmagens no total”, conta Milani, entre uma cena e outra. “Essa velocidade é um pouco da mágica da Sara (Silveira), acostumada a trabalhar com diretores estreantes em longa e da minha experiência na televisão, em minissérie e novelas, e nos permite cumprir esses planos.”

Os planos de uma adaptação datam de mais de uma década, quando Milani se viu diante de uma edição então recente do livro, na mesa da casa dele. Era da filha, uma dos quatro que completam a família Milani. “E eu pensei: nossa é agora”, conta ele. “Sempre achei que renderia um filme, é uma boa história. É atemporal e, para o cinema, não é anacrônico.”

O livro é tomado como base, evidentemente, mas o roteiro se reserva o direito de atualizar a trama para 2015 e criar um foco no público “adolescente, de jovens adultos”, disse Milani. “É o nosso primeiro foco, mas existe também um público saudosista, que leu o livro. A gente calcula que pessoas de até 50 ou 52 anos podem ter lido o livro.”

O protagonista Alberto, no texto de Lúcia Machado, é um estudante de medicina de 20 anos, cujo irmão caçula é a primeira vítima do serial killer que está assassinando os ruivos da fictícia Vale das Flores. No filme, Milani inverte o papel dos irmãos e coloca os holofotes em um Alberto de 13 anos, interpretado por Rosseti, com 12 anos completados no dia anterior à visita do Estado ao set montado em Amparo, cidade na qual grande parte das filmagens foi realizada, embora os municípios de Campinas, Jaguariúna e Holambra também tenham recebido locações do filme. “Acessamos a história pelo olhar do menino, mas ela será contada de forma madura.”

Ao encontrar o irmão mais velho assassinado com uma espada, após receber um escaravelho, Alberto parte para uma investigação paralela ao lado do investigador de polícia Pimentel, interpretado pelo experiente Marcos Caruso, um segundo protagonista da trama. “Adoro trabalhar com a possibilidade do erro, gosto de estar na corda banda, sem nenhuma rede de segurança, com adrenalina. Quando você trabalha com uma criança, você é constantemente surpreendido”, diz Caruso sobre o trabalho com o garoto. “Ele tem 12 anos e eu faço 63 e a forma como eles interagem é bonita. Na medida em que o menino está numa ascendente, crescendo, o Pimentel, está enfrentando uma síndrome de Levy, que vai se encaminhar para um Alzheimer, está em descendente.”

Rosseti era visto, no set, com um rosto fechado, extremamente concentrado com a cena que seria rodada naquela tarde de quarta-feira, até que Milani enfim ficou satisfeito – “você viu como ele vai mudando, de acordo com o que eu vou falando?”, disse ele, ao fim de uma tomada. Nos braços da mãe da ficção, Lara Córdula, em uma das últimas cenas do longa, começou a abandonar a personalidade de Alberto e voltou a ser Rosseti, um garoto de 12 anos. “Mamãe linda!”, gritou ele, do outro lado da casa, para desmontar a seriedade resposta de Lara sobre a intensidade da personagem dela, Marta, após a última filmagem da atriz no longa. “É tão complexa essa dor, de perder um filho, que não se sabe por onde ela vai se reerguer, se é que vai”, diz a atriz. “Ele é um menino, né? Mas fica em uma grande concentração e, mesmo que ele não tenha esse tipo de vingança, não tenha referência externa, ele me acolheu como mãe, mesmo em pouco tempo.”

Naquela tarde, o ator mirim era o único que teria mais uma cena a ser filmada, ao final do dia, para enfim ser liberado e encerrar o expediente. “Foi uma cena tensa, eu diria”, disse, ainda tentando se acostumar com a longa duração das filmagens – o maior período, até então, durou uma semana. A dificuldade, contudo, não supera as diversões de se estar em um set de filmagem pela primeira vez. “Tive um monte de primeiras vezes, como andar de moto”, conta, animado. “Estou satisfeito com o desempenho dele”, conclui Milani. “Não é um jovem adulto, é uma criança. Temos um protagonista que vai apaixonar e cativar o público.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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