O educador Euro Brandão

Ao celebrar a memória de Euro Brandão, dois anos passados de seu falecimento (31/12/1924 – 31/10/2000), quero ressaltar a figura eminente do grande educador que foi. Entre as muitas atividades e tarefas que realizou, entre os cargos públicos e as funções acadêmicas assumidas e entre as atividades de artista plástico e escritor, Euro Brandão foi sempre e acima de tudo um educador.

Euro Brandão foi um educador de visão, com os olhos voltados para o futuro. Tendo sido ministro da Educação, entre 1978 e 1979, trouxe importantes melhorias para o ensino do País, como a implementação do programa de pré-escola e a instalação de projetos-pilotos para melhorar a educação rural no Nordeste do Brasil. Mostra de seu pioneirismo foi a fundação do Centro de Computação Eletrônica da UFPR, em 1968, e a criação do Curso de Bacharelado em Ciência da Computação, em 1984, na PUCPR.

Entretanto, a importância que Euro dava à técnica e ao avanço científico não ofuscou suas convicções mais profundas sobre a vida humana. Ensinou: “Devemos querer uma informática que seja um meio e não um fim. Um meio que amplie a capacidade humana de fazer o bem, de proporcionar melhores condições de trabalho e de vida. Um meio que favoreça a vida humana e não seja a ela adverso. O único recurso final, indiscutível, continua a ser a presença do espírito humano”. (Universo e Transcendência). Podemos ver, assim, que em sua visão de futuro, aliado ao desenvolvimento técnico, estava o pleno desenvolvimento da pessoa humana.

Euro Brandão foi, também, um educador comprometido e exigente. Entre as muitas linhas que escreveu, encontramos a seguinte afirmação: “A lassidão, o facilitarismo, a passividade, levam à deformação do educando. No futuro, os profissionais formados em universidades vão agradecer os mestres exigente e parlamentar os descuidados ou os excessivamente condescendentes”. (Identidade e Filosofia da PUCPR). Tal atitude exigente de Euro Brandão nascia, sem dúvida, de sua ampla visão de educação e foi esta visão que ele ajudou a imprimir na PUC, onde foi reitor por 12 anos, de 1986 a 1997. Assim, além da formação profissional, Euro dizia que a “universidade deve levar a uma compreensão do sentido da vida, da transcendência, da solidariedade, proclamando a liberdade, a justiça, a dignidade do homem”. (Identidade e Filosofia da PUCPR).

Euro foi, sem dúvida, um educador do humanismo. Ainda em “Universidade e Transcendência”, afirma convicto: “A verdadeira crise é a crise do homem”. Ou seja, a crise de identidade da pessoa humana é a causa das crises econômicas e sociais, éticas e religiosas de nosso tempo. Em seu outro livro “O século da máquina e a permanência do homem”, insiste na necessidade de se humanizar o trabalho e a técnica, as empresas e a sociedade industrializada. Mostra, ainda, a necessidade de que o homem domine a máquina e não justamente o contrário, e lembra: “A sociedade moderna induz o homem a um acréscimo em suas necessidades vitais e, conseqüentemente, à inversão na escala valórica: o ser do homem é cada vez mais esmagado por um fazer e por um ter”.

Euro foi um educador da sensibilidade. Aliava ao rigor intelectual a levezas das formas e o brilho das cores vivas. Ele herdou de seu mestre, Guido Viaro, a técnica e a sensibilidade, tornando-se reconhecido no Brasil e no exterior. Como artista, demonstrou sua inclinação natural pela dimensão transcendente da existência humana, imprimindo em suas telas a sensibilidade do artista e a fé do cristão. Expressão disso é a belíssima via-sacra que deixou para a Paróquia Universitária Jesus Mestre da PUCPR. Seu espírito de fé o levou a fundar, em 1993, a Associação Brasileira de Artistas Cristãos, unindo ao talento artístico o testemunho de fé.

Euro foi um educador da fé. O testemunho de vida cristã não ficou restrito à sua vida pessoal, mas irradiou-se em sua vida pública, sobretudo em sua atuação junto à PUCPR. Ele escreveu: “Uma universidade que não cultive, assim, a idéia de Deus e a concepção do homem ético-transcendente é uma universidade vazia e deformadora”. (Universidade e Transcendência). Ele afirmava, convencido, que “pouca ciência afasta de Deus e muita ciência d’Ele aproxima. Cristo é a Verdade perene. As outras, inclusive a científica, são provisórias e passageiras”. (Identidade e Filosofia da PUCPR).

Um homem assim é um homem completo. Em educador assim é um educador ideal. Conheceu. Conheceu a vida humana profundamente, conheceu a ciência, dominou a técnica, brilhou na arte e distinguiu-se pela fé. A PUCPR, os paranaenses e a sociedade brasileira elevam sua prece de louvor e gratidão a Deus por todo o bem realizado por Euro Brandão. Que possamos compreender suas idéias e saibamos seguir os seus passos. Como lamparina, apagou-se; como estrela, brilha com seu exemplo entre nós.

Clemente Ivo Juliatto

é reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e integrante da Academia Paranaense de Letras. Home page:
http://www.orbit.pucpr.br/jornais.

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