São Paulo – Adam Sandler tem aquela cara de abestalhado, e quando fica de boca aberta, o beiço meio caído, passa mesmo essa idéia de um sujeito tacanho. Mas é só um tipo, uma persona que ele criou para a identificação com o público. Sandler é bom ator. Provou-o em Embriagado de Amor, o belo filme de Paul Thomas Anderson. Confirma-o em Tratamento de Choque, a comédia de Peter Segal que estréia hoje nas salas de todo o Brasil.
Sandler sustenta o duelo com o monstro sagrado Jack Nicholson. A história você já sabe, se viu o trailer. Sandler é um sujeito pacato que pede a atenção das aeromoças num avião. Termina acusado de agressão e levado ao tribunal. Condenado, tem de submeter-se ao tratamento de choque do título – para liberar-se da sua agressividade. Entra em cena Jack Nicholson como o psiquiatra meio biruta, que usa métodos pouco convencionais. Tão pouco convencionais que, lá pelas tantas, ele está saindo com a namorada de Sandler, interpretada por Marisa Tomei.
O filme é isso, e se Paul Thomas Anderson fosse o diretor, saberia, com certeza, elaborar um comentário sobre a vida e o comportamento modernos, a partir dos equívocos e mal-entendidos da relação Sandler-Nicholson-Tomei. Pois o filme é uma comédia de erros, como você só percebe no fim, quando fica claro que todo mundo estava representando e o tratamento de choque funciona. É a metáfora do filme. No fundo, o diretor espera realmente que o espectador se coloque no papel de Sandler, terminando por reconhecer a superioridade (moral?) de Nicholson, mas não se intimidando diante dela, pois a piada final, a última do filme, é de Sandler, gozando o companheiro de elenco.
Instituição
Jack Nicholson virou uma instituição de Hollywood. O motociclista maconheiro de Sem Destino, no auge da contracultura, transformou-se numa rara unanimidade do cinemão. E não se pode dizer que o rebelde tenha sido domesticado – completamente, pelo menos. Nicholson tem sempre aquele sorriso desestabilizador da ordem, de quem vive no limite entre ajustamento e transgressão. O filme é um show de caretas do ator. Você pode achar que ele está se repetindo, mas vai concordar, mais uma vez: como esse cara é bom!