O diálogo-monólogo de Maria Christina

Tenho por ela respeitosa admiração.

Lembro-me que, doze anos atrás, ao falar a um grupo de senhoras e senhorinhas sobre A Mulher no Limiar do Século XXI, desfilando as conquistas femininas e a liderança nos anos 90, culminei ao enaltecer a figura que não se fazia presente, dizendo: "E, aqui bem perto, junto de nós, divisamos um exemplo de realização pessoal, que muito nos envaidece, porque também projeta e engrandece o nosso Paraná, como modelo de mulher que conquistou o seu devido lugar, no esforço diuturno de um trabalho fecundo: Maria Christina de Andrade Vieira".

Homenageei, portanto, aquela que é objeto deste modelo escrito, ao ensejo da edição de Conversa Nua, que Afonso Romana de Sant’Anna saudou e definiu: "Maria Christina, essa excepcional mulher que empresariou tanta coisa, agora investe de corpo e alma nessa ‘conversa nua’, que é diário, confissão, pequenas crônicas, impressionistas poematizadas. Com frases curtas, cortadas, elabora um ‘diálogo-monólogo’, a que chama também de ‘diálogo desconectado’, mas conectado com vivências de amor e solidão na tensa relação entre o "eu’ e o "outro’. Ela indica as cidades e ocasiões em que esses textos emergiram, cerca-os de epígrafes de vivos e mortos. O texto viaja em seus contextos. É o périplo de alma sensível, que ‘desprotegida, sem pudores, derramou-se”.

Originária de uma família que ajudou a construir o Paraná, desde a velha Tomazina com o seu saudoso chefe, Avelino Vieira, exemplo de honradez e dedicação ao trabalho, que nos legou o Bamerindus de tão gratas recordações, Maria Christina, de talento inconfundível, é pessoa que se destacou também no mundo dos negócios, ocupando, com raro brilho e descortínio, a presidência da vetusta Associação Comercial do Paraná.

Amante da cultura, dedica-se a área literária, de que é modelo o recente lançamento.

Minicontos, pensamentos, reflexões, diálogo-monólogo, Conversa Nua é retrato dos sentimentos da distinguida autora, num linguajar primoroso, como se constata em Sombras: "Por aqui andei, desesperada, incontida, noites adentro, penetrei. Delírios fragmentados expelindo energias, mergulhando origens. Estranhas noites essa – velaram minha sombra. Por aqui andei. Perambulando. Empoeirada em cercas, devassando madrugadas, o firmamento a desabar. Por aqui andei. Tateando a estrada. Ainda não encontrei".

Enternecedora, bem definida, a escrita de Maria Christina encanta pelas verdades que encerra, ao exemplo de "Não se reflexiona sobre um sonho. Não se pensa no que foi intenso e doloroso. Não se medita sobre uma covardia. Não se escreve sobre um vazio".

Que estas modestas linhas sejam preito de reconhecimento a mulher empreendedora, valorosa, literata de escol, que honra e projeta o nosso Paraná!

Luís Renato Pedroso – desembargador jubilado, presidente do Centro de Letras do Paraná.

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