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‘O Destino de Uma Nação’ revê trajetória do polêmico Churchill

Foi preciso um Winston Churchill para Gary Oldman ser indicado para um Globo de Ouro, numa carreira de mais de 30 anos. No domingo, 7, ele levantou pela primeira vez seu troféu, por sua atuação em O Destino de Uma Nação, de Joe Wright. “Chamo de sorte de principiante”, disse, fazendo bom uso da ironia fina dos ingleses, em entrevista à reportagem, em Londres, em dezembro, pouco depois de anunciados os concorrentes. Ele admite o que poucos atores têm coragem: um sentimento de “finalmente”. A vitória é possivelmente mais um passo em sua trajetória rumo ao primeiro Oscar, no que seria apenas sua segunda indicação – a primeira foi por O Espião Que Sabia Demais, de Tomas Alfredson, seis anos atrás, quando perdeu para o francês Jean Dujardin, de O Artista. Oldman, que é apontado como grande inspiração por atores como Michael Fassbender e Tom Hardy, fez trabalhos memoráveis ao longo dos anos, de Sid e Nancy – O Amor Mata (1987) a JFK – A Pergunta que Não Quer Calar (1991) e Drácula de Bram Stoker (1992).

O ator, que completa 60 anos em março, disse, porém, que não pensou que esta seria a sua “grande chance” quando começou o projeto de viver o primeiro-ministro britânico durante a crise do cerco aos soldados do país em Dunquerque. “O filme pedia tanto, tinha a maquiagem, prótese, a roupa, é a última coisa em que estava pensando. Porque entro num filme sempre com algum medo e inquietação.” No caso, o ator sabia que sua falta de semelhança física com Churchill seria uma questão a ser resolvida. Foi preciso maquiagem especial no rosto e um traje para deixar o esguio Oldman com as formas arredondadas do político. “Tinha trabalhado com Kazuhiro Tsuji, o designer de maquiagem, muitos anos atrás. Ele tinha se aposentado do cinema, mas eu disse para Joe Wright que se ele não conseguisse fazer, ninguém mais conseguiria, basicamente.” Era preciso encontrar o equilíbrio entre o ator e o personagem, para que o segundo não engolisse o primeiro. “Não foi intimidante. Foi libertador, na verdade. Senti que podia me entregar completamente. Me esconder.”

Com tudo o que está acontecendo no mundo, parece ainda mais relevante um filme sobre grande liderança num momento de crise, quando a Segunda Guerra parecia quase decidida em favor dos nazistas, e Churchill resolveu que era melhor um plano arriscado – retirar os 300 mil soldados encurralados em Dunquerque em barcos particulares pequenos – do que negociar com Adolf Hitler. “A ideia vem de seis anos atrás. Às vezes, os filmes se tornam relevantes no momento, mas não começamos com isso na cabeça. Está no zeitgeist (o espírito de uma época)”, afirmou Oldman.

Curiosamente, Dunkirk, de Christopher Nolan, também cotado para o Oscar, conta o lado de lá, dos soldados à espera de um milagre na praia. “Hoje, estamos pensando em liderança – ou na falta de -, e Churchill é o epítome da liderança e da arte de governar. Engraçado como essas coisas acontecem.

Quando começamos, a eleição presidencial americana não tinha acontecido, não tinha Brexit. Mas você vê uma figura como Churchill e começa a comparar 1940 com 2017.” Mas ele mesmo resiste a comparar as duas épocas. “Não acho que se possa ver os anos 1940 com os olhos de hoje. Era uma época diferente. Sabíamos quem era o inimigo, e ele estava ali. Agora, o inimigo está entre nós. É um tipo de batalha ou guerra muito diferente.”

Oldman, que muitas vezes foi criticado por coisas que disse, parece mais comedido. Deve saber que, um pouco como os políticos, está em campanha. Ainda assim, mantém uma sinceridade rara de ver em Hollywood. Por exemplo, ao falar da ausência de trabalhos realmente significativos depois de sua brilhante atuação em O Espião Que Sabia Demais. “Tenho focado em outras coisas criativamente”, disse, referindo-se a roteiros que escreveu e projetos de filmes que tentou financiar. “Mas claro que amaria ter um roteiro na minha mesa escrito pelo produtor e dramaturgo norte-americano Aaron Sorkin. Até alguém como Daniel Day-Lewis, que eu acho que não precisa trabalhar, tem intervalos entre seus grandes personagens. Há coisas que se faz para basicamente viver. Atuar é o que faço para sobreviver, é como alimento minha família. Óbvio que adoraria ter papéis melhores, mas levou esse tempo todo desde O Espião Que Sabia Demais para o Churchill aparecer”. Está aberto a fazer séries de TV, que acompanha com interesse. Mas não antes de encher a estante com mais alguns troféus graças ao primeiro-ministro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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