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O desafio de ser Cazuza

O ator Osmar Silveira não esquecerá tão facilmente a passagem do papa Francisco pelo Rio de Janeiro, em 2013. Mais que uma devoção, o motivo é, na verdade, profissional.

O ideal é que o próprio rapaz, hoje com 31 anos, relembre: “Eu participava do quinto e último dia de teste para o papel principal do musical Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz. Era o decisivo. As outras etapas já tinham sido bem disputadas – logo no primeiro dia, fomos avaliados por Lucinha e João Araújo, os pais do Cazuza. Pois bem, eu morava em Copacabana, no Rio, e precisava chegar até Botafogo. Uma viagem rápida, tranquila. Mas, com a visita do papa, as ruas estavam todas tomadas, carros e ônibus não se movimentavam. Comecei a andar, depois a correr, driblando a multidão, passando por túneis, até chegar ao local da audição. Estava suado, desgrenhado, cansado e diante dos principais adversários”.

Sim, Osmar tinha, entre outros, a forte presença de Emílio Dantas, que se tornaria o principal intérprete da primeira fase da temporada do musical. Mas, voltando àquele dia suado: “Decidi não imitar o Cazuza – cantei com minha própria voz”, conta ele, cuja verdade e presença de cena impressionaram o diretor João Fonseca e a banca examinadora. Ainda que Emílio fosse escolhido como o principal intérprete, Osmar tornou-se seu primeiro substituto.
E, quando atuou, impressionou o diretor a tal ponto que ele foi convidado para viver o cantor na nova temporada de Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, em cartaz no Teatro Porto Seguro. Um desafio que ele divide com outro grande ator, Bruno Narchi, seu substituto em algumas sessões.

A emoção é requisito básico do espetáculo: escrita por Aloísio de Abreu, a peça narra a curta, mas intensa, trajetória de Cazuza (1958-1990) que, graças ao tom libertário e poético de suas canções, continua referência no moderno rock brasileiro.

Em cena, os personagens interpretam seus maiores clássicos – tanto em carreira solo quanto com a banda Barão Vermelho, como Pro Dia Nascer Feliz e Codinome Beija-Flor. Também os hits Bete Balanço, Ideologia, O Tempo Não Para, Exagerado, Brasil, Preciso Dizer Que Te Amo e Faz Parte do Meu Show estão presentes no roteiro, que ainda reserva espaço para composições de Cazuza que ele nunca chegou a gravar, como Malandragem, Poema e Mais Feliz.

Ainda que seja um dos elementos fundamentais do musical, a trilha sonora ganha emotividade graças à forma como a história é narrada. Filho de uma família confortável economicamente, Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, revelou-se um rapaz notável, cuja rebeldia juvenil o levou a abusar das drogas e da liberdade sexual e etílica, relacionando-se freneticamente com outros homens ao mesmo tempo em que despontava como um criador genial – para ele, mais que uma arte, a música era uma energia, ferramenta para mudar o mundo.

Curiosamente, antes de participar do musical, Osmar Silveira confessa que tinha pouco conhecimento a respeito de Cazuza. “O sertanejo era minha referência mais forte”, conta ele, nascido na cidade de Campo Verde, em Mato Grosso. A disposição para as artes o convenceu a se mudar para o Rio de Janeiro, onde vive há sete anos. A beleza física pode lhe ter aberto caminhos, mas Osmar se impôs pelo talento.

Para criar seu personagem, conta ter aprendido muito com a atuação de Emílio Dantas. “Ele foi um espelho para mim – seu timbre parecido com o de Cazuza, a língua presa, o gestual.” A observação serviu, portanto, como ponto de partida para que Osmar apresentasse a sua versão – semelhante na aparência, distinta nos detalhes. “O musical apresenta um gráfico bem desenhado, com o intervalo entre o dois atos servindo como separação dos dois momentos mais marcantes da vida de Cazuza: antes e depois da descoberta de ser portador do vírus da aids. É uma mudança tão profunda que já houve espectador perguntando se eram dois atores interpretando em cada ato.”

Para retomar o personagem, Osmar reviu imagens de Cazuza cantando e falando – voltou a fazer aulas de fono para aperfeiçoar a língua presa e evitar uma caricatura. Uma imersão profunda, que transborda em cena, especialmente em momentos como quando canta Vida Louca – nesse instante, o cantor está fragilizado, com o fim da vida se aproximando. “É difícil segurar a emoção”, confessa.

O mesmo acontece com o restante do elenco, incapaz de segurar as lágrimas nas cenas finais. “Até mesmo meu personagem, o jornalista e produtor Ezequiel Neves, que é a referência de humor do espetáculo, se rende à emoção”, conta André Dias, cuja interpretação é um dos pontos altos do musical, ao lado de Susana Ribeiro, como Lucinha Araújo, e Marcelo Várzea, na pele de João, pai de Cazuza.

CAZUZA – PRO DIA…
Teatro Porto Seguro. Al. Barão de Piracicaba, 740. 6ª, 21h. Sáb., 17h e 21h. Dom., 19h. R$ 75 /
R$ 150. Até 25/8

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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