Há algo profundamente belo e sutil em O Confeiteiro, longa de estreia do diretor e roteirista israelense Ofir Raul Graizer. Não foi suficiente para que, indicado por Israel para concorrer ao Oscar, o filme ficasse na ‘shortlist’ dos finalistas. Dane-se o Oscar. O Confeiteiro narra o que não deixa de ser um triângulo amoroso, mesmo que uma das partes se ausente logo, fisicamente, do relato. O confeiteiro, Tomas, é um jovem alemão que aprendeu a fazer biscoitos e tortas com a avó. Torna-se amante de um israelense casado (em seu país) que viaja regularmente a Berlim.

continua após a publicidade

O israelense, Oren, volta para casa e some. Não atende aos chamados de Tomas. Morreu num acidente. Tomas viaja a Israel, movido pela curiosidade de conhecer a mulher e o filho do ex. Termina trabalhando no café da viúva. Surge uma interessante discussão que envolve religião e tradição. O alemão pode operar o forno num café kosher? Suas tortas fazem sensação. A viúva, carente, é atraída pelo funcionário. Ele se divide entre a sua natureza gay e novos e perturbadores sentimentos que afloram. Deseja um soldado, mas – olha o spoiler – conquista a mulher repetindo o que o marido dizia que fazia com ela na cama.

continua após a publicidade

Cinicamente, alguém poderia dizer que O Confeiteiro adota o princípio da cura gay. Não é o caso. A trama permanece irresolvida, mas algo mudou na vida da viúva, do confeiteiro. Um crítico norte-americano, Roger Ebert, viu na escrita e na forma cinematográfica de Graizer vestígios do melancólico naturalismo de um grande diretor francês que os viúvos da nouvelle vague demoraram a aceitar, Claude Sautet. Um cinema de observação – das pequenas vidas dos personagens e da cidade. Preparar a massa, aquecer a massa com o contato das mãos. As mãos de Tomas na massa e no corpo da mulher. O toque entre os homens, o afeto. Nesse jogo de sutilezas, surge uma personagem pontual, que aparece duas ou três vezes, mas é decisiva. A mãe de Oren. Basta olhar para Tomas que ela sabe. Saca tudo. Como e por que, é um mistério que o filme não esclarece. Mas, sim, só as mães são felizes.