O SBT vai exibir no primeiro trimestre de 2003 sua primeira microssérie nacional. A exemplo do que a Globo fez em 1997 com “Guerra de Canudos”, de Sérgio Rezende, a emissora de Sílvio Santos vai exibir “O Cangaceiro”, de Aníbal Massaini Neto, em forma de microssérie de quatro capítulos. A data não poderia ser mais apropriada. Em 2003, o filme “O Cangaceiro”, o clássico de Vítor Lima Barreto que inspirou a versão de Massaini, completa 50 anos. Por ocasião de seu lançamento, a versão original do filme ganhou prêmio de melhor filme de aventura no Festival de Cannes de 1953.
“O projeto inicial já previa uma versão em microssérie para a tevê. Mas ele só decolou mesmo em 99, quando Sílvio Santos assistiu ao filme e se interessou em exibi-lo no SBT”, esclarece o diretor e produtor Massaini.
A emissora investiu, então, R$ 350 mil, via leis de incentivo fiscal, no projeto. Pelo acordo, a Cinearte, produtora de Aníbal Massaini, terá participação no faturamento publicitário dos intervalos da série. Por isso mesmo, o diretor tratou logo de rodar novas seqüências em Petrolina, no interior de Pernambuco. Tais cenas incluem “stock-shots” com cenas de pôr-do-sol e paisagens de seca. “As últimas captações de imagem tiveram de ser adiadas por causa da chuva. Foi ótimo para a população local, mas ruim para a gente”, brinca o diretor.
Além de novas tomadas, Massaini inseriu também novos personagens na trama. A atriz Neuza Borges, por exemplo, interpreta a mãe-de-santo responsável pelo ritual de “fechamento de corpo” do cangaceiro Galdino Ferreira, vivido por Paulo Gorgulho. Já Antônio Pitanga e Renato Borghi interpretam, respectivamente, um oficial do Exército e um político da região. As cenas com os novos personagens foram rodadas em Itu, no interior de São Paulo, em planos bem fechados. Com isso, a versão para a tevê de “O Cangaceiro” ganhou mais 80 minutos. No SBT, ela vai ser dividida em quatro capítulos de 50 minutos.
O filme “O Cangaceiro” é narrado em “flash-back” pelo velho Tico, um ex-cangaceiro interpretado pelo veterano Jofre Soares, em sua última participação no cinema. Quando criança, o pequeno Tico era uma espécie de mascote no bando de Galdino. Entre emboscadas, assaltos e cercos, ele relembra a vez em que os cangaceiros Galdino e Teodoro, interpretados por Paulo Gorgulho e Alexandre Paternost, entram em confronto por causa de Maria Bonita, vivida por Luíza Tomé. A situação se agrava quando Galdino seqüestra Olívia, a sobrinha de um prefeito da região vivida por Ingra Liberato, e Teodoro resolve libertá-la.
Até hoje, Massaini não se esquece dos quatro meses de filmagens, entre outubro de 1995 e fevereiro de 96, no agreste pernambucano. Nesse período, ele garante ter dormido apenas duas noites. Um dos maiores inimigos da equipe técnica foi o sol abrasador da caatinga nordestina. Todos trabalharam sob uma temperatura de até 46º C. “Fui um dos que mais sofreram com o calor. Em cena, usava uma roupa de couro de 17 quilos, sem contar acessórios, como um aplique que deixava meus cabelos mais longos”, recorda Paulo Gorgulho.
Imprevistos não faltaram. O cantor Dominguinhos, por exemplo, tem pavor de avião. Por conta disso, Aníbal teve de priorizar as cenas do sanfoneiro. “Se ele fosse de carro fazer show em outros estados, não voltava mais”, justifica o diretor. O hotel também não era lá essas coisas. Como a maioria das cidades não oferecia opções de lazer, o elenco não tinha muito o que fazer quando voltava à noite para o hotel. “O pior é que o hotel só tinha duas linhas telefônicas. Quando elas estavam ocupadas, ninguém mais se comunicava com o mundo aqui fora. Celular também não pegava”, enumera Luíza Tomé.
Massaini, porém, anda tão empolgado com a exibição de “O Cangaceiro” na tevê que já pensa em fazer o mesmo com “Pelé – O Atleta do Século”, uma cinebiografia sobre o rei do futebol. O diretor pretende concluir as filmagens até março de 2003, mas já decidiu editar também uma versão para a tevê. “Mas ainda não tenho nenhuma emissora em vista”, desconversa ele.