A Sinfonia n.º 12 de Shostakovich preencheu a segunda parte do concerto da última segunda-feira, 3, da excelente Filarmônica de Dresden na Sala São Paulo. Quarenta minutos de música artificiosamente pomposa, “oficialesca”. Ele a compôs como “passaporte”, em 1961, para ser admitido como membro do Partido Comunista da URSS.

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Sem dúvida, o violoncelista russo Mstislav Rostropovich, seu amigo pessoal, teve razão quando afirmou que “Shostakovich escreveu a Canção da Floresta para Stalin, dedicou uma sinfonia a Lenin e esta que leva o título O Ano de 1905. Sua consciência, porém, não o deixou compor essas obras com qualidade suficiente para ocupar um lugar na História”. E Lauro Machado Coelho, em sua ótima biografia do compositor, acrescenta que a 12.ª só foi composta porque permitiu-lhe finalmente estrear a Sinfonia nº 4 – esta sim, formidável, infelizmente inédita por 25 anos. O verdadeiro Shostakovich mostrava ali suas armas. Já que Sanderling está gravando a integral de suas sinfonias alinhadas com as de Beethoven, poderíamos ter ouvido a quarta, obra essencial entre as 15 do compositor russo.

Seus quatro movimentos são tocados sem interrupção. O Allegro inicial é marcado pela insistência nos tutti em fortíssimo. O Adagio talvez seja o movimento mais interessante, com seus longos recitativos. Lembra Mahler. Em Aurora, a Filarmônica obteve seu melhor momento na sinfonia, ao partir de um pianíssimo quase inaudível para um fortíssimo que anuncia o balofo e tonitroante movimento final, “o amanhecer da humanidade”.

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A qualidade da orquestra alemã saltou mesmo aos olhos e ouvidos do público na Abertura Coriolano, op. 62, de Beethoven. Uma gema de 7 minutos, em que o compositor encapsulou todo o seu gênio. É pura música de programa contando a saga trágica do general que desafia Roma, inspirada pela peça de Collin e na qual o compositor se enxergou como o herói incompreendido pelos que o cercam. Extremamente condensada, é surpreendente – qualidades ressaltadas na interpretação de Michael Sanderling, que comandou com extremo cuidado a batalha entre os dois temas que se digladiam. Os músicos de Dresden mostraram como a tradição é decisiva nesse tipo de repertório.

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Uma qualidade que não só se repetiu no concerto n.º 5 de Beethoven, mas teve no pianista romeno Herbert Schuch o intérprete ideal. As amplas sonoridades mostram o piano pela primeira vez como instrumento capaz de se confrontar com a massa orquestral. Uma característica que se impõe já de saída, depois das três cadências da orquestra. De novo, o Adagio intermediário foi um dos grandes momentos da noite, com o piano expressivo de Schuch acolchoado pela orquestra. O brilho do rondó final, um Allegro ma non troppo, coroou uma performance arrebatadora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.