Tarcísio Meira, como Boris, não tem metade do charme do Vlad, de Ney Latorraca. |
O autor de O Beijo do Vampiro, Antônio Calmon, ainda não acertou a mão em sua nova trama vampiresca. Ou melhor, não só o autor, mas direção e elenco da novela das sete da Globo estão longe de apresentar um desempenho brilhante.
Principalmente para os espectadores que assistiram a Vamp, novela de 1991 em que Calmon pela primeira vez mergulhou no universo dos vampiros, e que surpreendeu o público com um texto ágil e humorado. Para estes, a comparação entre a antiga novela e atual é inevitável. Enquanto O Beijo do Vampiro se mostra superior em efeitos computadorizados, natural pelo desenvolvimento tecnológico dos anos 80 até os atuais, Vamp tinha atores mais afiados e um protagonista acima da média.
Após quase três meses de O Beijo Vampiro, fica evidente que Ney Latorraca divertiu bem mais o espectador com seu debochado vampiro Vlad Polanski. Tarcísio, que mostrou-se exemplar nos primeiros capítulos da nova novela, perdeu o fio da meada e apresenta diariamente um confuso Boris. Parece que, juntamente com os cabelos e a barba, o ator se livrou do timing do personagem. O certo é que o atual bigode e o cabelo curto e bem penteado de Tarcísio o aproxima mais da imagem de xerife mexicano do que do misto de terror, deboche e sensualidade que precisaria passar como vampirão. E as falas criadas por Calmon para o personagem também não são das mais inspiradas.
Quando um ator do porte e talento de Tarcísio precisa alterar o visual após ter colocado aplique e aceitado deixar a barba crescer é porque algo não vai bem com a novela. Mais ainda se a mocinha da trama também tiver de trocar o corte de cabelo algumas vezes. Com os protagonistas Tarcísio e Flávia Alessandra sem apresentar boas performances, resta aos outros atores “salvarem” a novela de Calmon. O pequeno Kayky Brito se esforça para dar conta do avoado Zeca e não se sai mal. Pelo contrário, surpreende ao mostrar segurança em meio a veteranos como Luiz Gustavo e Glória Menezes. Mas é pouco.
Com o bigodudo Boris sem meter medo como vilão, Calmon vai transformar a cega Marta, papel de Júlia Lemmertz, na malvada da trama. Ela será acusada de ser a responsável pela morte da própria irmã, que era a primeira esposa de Augusto, papel de Marco Ricca. Também voltará a enxergar em uma situação digna de dramalhão mexicano. Vai desmaiar e ao bater a cabeça retomará a visão. No entanto, num recurso que o autor pode até usar de maneira engraçada, Marta vai fingir continuar no “mundo das trevas”.
A decisão do autor, de fazer uma espécie de contraponto a Boris colocando na trama o anjo Ezequiel, vivido por Celso Frateschi, não causou impacto e nem cenas criativas. Calmon agora vai dar mais uma tacada, incluindo nos próximos capítulos a esposa sumida de Galileu, papel de Luiz Gustavo. É uma maneira até de abalar o romance do personagem com Zoroastra. Aliás, são justamente as tramas paralelas as mais desprovidas de charme em O Beijo.
O problemático relacionamento entre Matilde e Armando, vividos por Cláudia Mauro e Eduardo Galvão, seria dispensável na novela. A não ser que Calmon tire da cartola uma passagem relevante sobre o passado dos dois. Os personagens de Betty Goffman e Tato Gabus, que pareciam promissores, aos poucos se tornam previsíveis e estacionados. Não há dúvida de que as cenas em que Tato canta e toca violão são engraçadas. Mas não a ponto de sustentar um bis por capítulo.
Por enquanto, quem está acima da média é Cláudia Raia. Após ter vivido com talento a transexual Ramona em As Filhas da Mãe, a atriz convence como a vampira malandra Mina. Um dos poucos personagens, aliás, que poderia ser comparado com o seu equivalente em Vamp. Cláudia Ohana estava excelente como a vampira Natasha, mas Cláudia Raia não fica atrás com seu barrigão de grávida. Aliás, o fato de o bebê de Mina conversar com as pessoas ainda dentro da barriga é uma das poucas boas sacadas em O Beijo. Em resumo: falta humor na novela das sete da Globo. Exatamente o que Vamp tinha de sobra.