Nuno Lopes, um ?gajo? de futuro

Nuno Lopes não se empolgou muito quando soube que a Globo estava selecionando atores portugueses para trabalhar em “Esperança”. Ele já tinha assistido a diversas produções brasileiras, mas nunca pensou em fazer novelas no outro lado do Atlântico. O ator só mudou de idéia quando descobriu que os testes eram para uma novela de Benedito Ruy Barbosa, o mesmo autor de “Pantanal” e “O Rei do Gado”, duas de suas novelas preferidas.

Mesmo assim, Nuno não imaginou que pudesse ser escolhido entre 60 candidatos. Nem esperava que o briguento José Manoel fizesse tanto sucesso. “Sabia que o personagem cresceria depois que namorasse a Nina, mas não esperava repercussão igual”, confessa ele.

O sucesso do simpático “murruga” da trama de Benedito Ruy Barbosa pode ser comprovado pelo número de cenas que Nuno Lopes tem gravado por dia. Logo no começo, quando José Manoel não passava de um reles estudante do cortiço de “Esperança”, Nuno gravava um dia e descansava cinco. Desde que passou a trocar juras de amor com a operária Nina, interpretada por Maria Fernanda Cândido, o ator português não teve mais descanso. Atualmente, grava cerca de 20 cenas por dia. “Não estou a reclamar, mesmo porque sei que ninguém faz milagres. Só fico a achar que poderia ter feito melhor o meu trabalho. Sou muito perfeccionista”, garante.

Aos 24 anos, Nuno não tem do que se queixar. Quando desembarcou no Brasil, no dia 23 de maio, era apenas mais um imigrante a tentar a sorte no Brasil. Hoje, se assusta com o assédio do público brasileiro – principalmente do feminino. “O artista no Brasil é mais endeusado do que em Portugal”, compara. Na terrinha, Nuno fez apenas uma novela e alguns humorísticos. Nada que se compare a “Esperança”. Por isso mesmo, não sabe o que fazer quando a novela terminar. Em fevereiro, vai ter de escolher entre continuar no Brasil, voltar para Portugal ou viajar para a Inglaterra, onde pretende estudar teatro em Londres. “Sinto como se estivesse mantendo em casa o cachorro de um amigo. Não posso me afeiçoar porque sei que, um dia, ele vai embora”, dramatiza.

P

– A que você atribui a empatia quase imediata do José Manoel com o público?

R

– Atribuo essa empatia ao carisma do próprio personagem. O José Manoel é um personagem muito bonito. Ele é o que podemos chamar de um herói romântico. E o romantismo sempre cativa as pessoas. Mas ele não é simplesmente um herói. Se fosse, seria fácil representá-lo. O José Manoel tem muitos defeitos também. Como qualquer ser humano. É ciumento, enfezado, briguento… O José Manoel é do tipo que não gosta de levar desaforos para casa. Em suma: ele está longe de ser um poço de virtudes. Se tem uma virtude, é o amor que sente pela Nina.

P

– Algum dia, você imaginou que estaria fazendo novela no Brasil?

R

– De jeito nenhum. Nunca pensei em fazer novelas no Brasil. Televisão não é bem a minha área… Ou, como vocês preferem dizer, não é muito a minha praia. Não é o que mais gosto de fazer. Nem é o que tenho mais jeito para fazer. Sempre gostei mais de teatro. Logo que me falaram dos testes, não liguei muito. Mas, quando soube que a novela era do Benedito, mudei de idéia. Ele fez “Pantanal”, “O Rei do Gado” e “Terra Nostra”, novelas que me marcaram muito. Foi aí que tive certeza de que seria um trabalho especial. Mas não achei que pudesse passar. Achei que eles escolheriam outro ator. Alguém mais bonito…

P

– Como foi o seu processo de adaptação ao Brasil?

R

– A minha maior dificuldade diz respeito ao ritmo de trabalho. Não tanto o da novela em si, mas o da televisão de uma maneira geral. Nunca tenho muito tempo para estudar os textos. Gosto de ficar horas a pensar numa determinada cena. Mas também não fico aborrecido com isso, porque sei que não há outra maneira. Ninguém faz milagres. Quando assisto às minhas cenas, raramente gosto do que vejo. Sempre acho que poderia ter feito melhor. Sou muito exigente comigo mesmo.

P

– E quanto ao país? Você sentiu alguma dificuldade de adaptação?

R

– Felizmente, não. Fui muito bem recebido pelos meus colegas de trabalho. O elenco da novela tem sido uma família para mim. Nunca morei fora do meu país. Essa é a primeira vez. A maior dificuldade está sendo lidar com a fama. Costumo dizer que nasci para ser ator e não para ser famoso.

P

– Como tem sido a repercussão? Você é muito assediado nas ruas?

R

– Ora, pois! A repercussão tem sido enorme. As pessoas vêm ter comigo para fazer perguntas sobre o personagem. Em Portugal, isso já acontecia. Mas os portugueses são mais tímidos e calmos na abordagem. O artista no Brasil é mais endeusado do que em Portugal. Gosto muito de ser ator. Mas não gosto muito de ser famoso. Não estou acostumado. Não acho fácil, por exemplo, lidar com mulheres me assediando e falando que sou bonito. Não me acho bonito, nem feio. Sou normal.

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