Etnólogos e antropólogos catalogam e estudam as raças ? branca e negra, amarela e vermelha, e até subraças. Para os humanistas existe apenas uma raça: a raça humana. *** Não, o amor não é cego: é míope, ou daltônico. Às vezes, faz que não vê. *** Era um paradoxo vivo: um baixo com mais de um metro e oitenta de altura. Cantor de ópera, naturalmente. *** A verdade é a beleza da essência, assim como a beleza é a verdade das formas. *** Morrer por um ideal? É melhor viver por ele. Matar por uma causa? É melhor morrer por ela. *** Equivalem-se a anarquia e a libertinagem, formas degeneradas de liberdade espúria. *** Por que se queixava de uma insônia perpétua se tinha a eternidade para dormir? *** Há dois sentimentos dominantes na República das Letras: a admiração e a inveja. Mas atenção: ninguém inveja mais do que o medíocre, cuja tragédia pessoal é a de ser incapaz de disfarçar o seu sentimento deletério. Por mais que tente, o semblante, os olhos (que não olham de frente), a voz e as palavras o traem irremediavelmente. E o paradoxal é que, como disse Shakespeare, o invejoso daria tudo para estar na pele do invejado. *** Quantos versos livres de alguns pseudopoetas não parecem soltos de alguma prisão, pela complacência de um juiz pusilânime? *** Ninguém mais discute o sexo dos anjos, como faziam os monges em Bizâncio, à véspera da invasão dos bárbaros. Hoje, bizantinamente, discute-se o sexo dos homens. *** Duma coisa estou certo: da inexorabilidade das minhas dúvidas. *** A saciedade é o tédio do estômago, da mesma forma que o tédio é a saciedade do espírito. *** Viajar é sempre uma experiência enriquecedora. Sobretudo para os proprietários de agências de viagem, companhias aéreas e hotéis. *** Há três tipos de soluções para problemas existenciais: as boas, as más e as salomônicas. Estas são as piores: tentando agradar a todos, a todos desagradam. *** Diz André Gide que é sábio aquele que se espanta de tudo. Mas seria mais sábio se não se surpreendesse com nada. *** Na Rússia, apenas um general jamais correu o risco de ser destituído, enforcado ou exilado para a Sibéria: o general inverno. *** Infelizmente, não são apenas os rins de alguns matemáticos que produzem cálculos. *** Tem razão o imenso T.S. Eliot: abril é realmente o mais cruel dos meses. Sobretudo quando ele é a datalimite para a entrega do Imposto de Renda. *** Ao mudar, seja em que aspecto for, pouco importa a coerência. O importante é que a mudança tenha sido para melhor. *** Ama o teu próximo com a mesma intensidade com que tu gostarias que ele amasse o dele. *** Há menos virtude em ser grato do que em compreender e perdoar a ingratidão. *** Inspiração sem trabalho nada produz; trabalho sem inspiração nada de bom produz. *** As reformas são sempre necessárias. A mais importante de todas? Reformar os reformadores. *** Guerra civil? Digamos antes: guerra incivil. A mais incivil de todas as guerras. *** Feliz o pensamento, que não precisa de ortografia nem de gramática. *** A história não passa de um romance em que os personagens são de carne e osso. *** Talvez o gênio seja fruto antes, excelente Buffon, de uma longa impaciência. *** Para terem que lavar a honra com sangue, é preciso que alguns indivíduos e nações a tenham muito suja. *** A guerra é o único jogo, pois de um jogo cruento se trata, em que até o vencedor perde. *** É mais desconfortável um colarinho apertado do que a opressão de um tirano. *** Para Fernando Pessoa, o padre Antônio Vieira seria o imperador da Língua Portuguesa. Coitado, morreu antes de surgir Guimarães Rosa. *** Há maior mérito em descobrir ou equacionar um problema do que em resolvê-lo. Até porque um problema bem equacionado está meio resolvido. *** ?Bonum vinum laetificat cor homimis.?Sem dúvida, o bom vinho alegra o coração do homem. Embora possa entristecer algo que está em cima do coração: a carteira. *** O adulador tem sempre palavras de mel e silêncios de fel. *** Sabedoria é sempre conhecimento com dois ?plus?: experiência e ética. *** Quantas vezes coisas obtidas de graça acabam custando muito caro? *** Aprender, seja o que for, é sempre o mais rentável dos investimentos. *** Literatura infantil? Com raras e honrosas exceções, ela costuma ser realmente infantil, mas raramente é literatura. *** O dinheiro é supérfluo, o ouro é lixo. Assim falou, não Zaratustra, mas um milionário, fechando o seu cofre.
João Manuel Simões é poeta e prosador