De tão ruim, ficou bom. Esse é o lema da equipe de Sharknado, telefilme tosco de baixo orçamento, cuja história fala sobre um tornado de tubarões que apavora população de Los Angeles. Apesar da falta de esperança de seus produtores, o sucesso de audiência e repercussão foi tamanho que o canal Syfy encomendou a continuação, que ganhou a extensão A Segunda Onda no título, ambientada em Nova York, com estreia marcada para quinta-feira, 31, um dia após ir ao ar nos EUA.
“Combinar um furacão com tubarões é pensar como uma criança de 11 anos. São ideias ridículas e bizarras”, debocha o diretor Anthony C. Ferrante. O norte-americano teve a ideia quando tentava desenvolver o roteiro de Leprechaun’s Revenge, longa em que uma tempestade devasta uma cidade. A criatividade foi aguçada na hora de dar continuidade à trama. “Quando trabalhávamos na sequência, fiquei pensando na cena em que a Estátua da Liberdade era decapitada e rolava pelas ruas.”
Sharknado ganhou força no ar porque figuras de Hollywood, como Mia Farrow, começaram a comentar durante a exibição, o que resultou em 5 mil tuitadas por minuto. “Atraímos pessoas que não sabiam do que se tratava e que viram o trailer. Nosso trailer dava a impressão de ser um filme grandioso. Em geral, você falha quando tenta fazer isso”, analisa Ferrante.
Além da produção com pouco capricho, que mistura tubarões mecânicos com outros inseridos por computação gráfica, o longa tem no elenco atores cujas carreiras não incluem títulos elogiados, com o Ian Ziering, o eterno Steve da série Barrados no Baile, e Tara Reid, de American Pie. Desta vez, celebridades B dos EUA fazem participações, como Kelly Osbourne e o colunista social temido pelas estrelas Perez Hilton. “Eles têm um papel de verdade. Mas em uma cena, acho que Perez interpretou ele mesmo. Mas nunca falamos sobre isso. Não é um papel grande”, diz o diretor, que interrompe a entrevista para ver a uma família de patos passando pelo jardim de um hotel na Califórnia. “Ei, caras. Vocês querem participar do próximo filme?”, brinca.
Para Ferrante, um dos atrativos do filme é o total descompromisso com a verdade. “Em outros filmes, os militares e cientistas estariam preocupados com o tornado de tubarões. No nosso, eles querem jogar uma bomba para acabar com tudo. Esse é o charme”, aposta. Ele afirma que há muita pretensão Hollywood. “No último verão, tivemos alguns filmes-pipoca, mas eles se levam a sério demais.”
O diretor pouco se preocupou com a lógica. “Filmamos em fevereiro (inverno no hemisfério norte), mas queríamos que fosse ambientado no verão. E houve mudanças de tempo estranhas nas filmagens. Colocamos isso na história. Há neve e depois um recorde de calor. É a beleza da licença criativa”, relembra, às gargalhadas.
Outro fenômeno relativo a Sharknado foram os produtos licenciados. “O que mais gostei foram os pijamas infantis, que ficaram esgotados. Achei isso muito esquisito. Depois, vieram os calendários. Eu me lembro de comprar os do Star Wars, quando eu era criança”, espanta-se o diretor.
A trilha sonora foi outro hit. A canção Balada do Sharknado (em livre tradução), cuja letra tem versos como “Corra, você não quer ser engolido por um tubarão”, teve downloads pagos. “Colocamos algumas próprias porque não havia dinheiro para comprar direitos de outras, seria metade do orçamento”, explica o cineasta. O custo foi estimado em US$ 2 milhões.
Fã de Tubarão (1975), de Steven Spielberg, Ferrante não teve chance de ouvir comentários do ídolo. “Mas eu conheci o Carl Gottlieb (roteirista do longa) e nós saímos. É como estar com a realeza. Graças ao meu filme, conheci pessoas que jamais imaginei. É ótimo.”
Na internet
5 mil tuitadas por minuto foram contabilizadas durante a exibição do primeiro filme. No total, foram 387 mil menções na rede. O repórter viajou a convite do canal SyFy.