Novo grande show de Gal Costa

No palco do Canecão, Gal Costa prova que – ainda e, em certos sentidos, cada vez mais – é uma grande cantora, com total domínio e consciência de sua voz e interpretação. Mas Todas as coisas e eu, que estreou nesta quinta-feira – a temporada segue até domingo – está longe de ser um grande show. Se, ao cantar, ela consegue elevar o público em momentos sublimes, o espetáculo o tempo todo procura trazê-lo de volta ao chão, seja por problemas de anticlímax no roteiro, pelo gosto duvidoso da cenografia ou mesmo na concepção musical, refinada, mas que peca pela falta de ousadia.

Quando volta a tocar violão ao vivo, como não fazia há tempos, e resgata músicas perdidas em seu repertório antigo, Gal deixa no ar um recado: “Todas as coisas e eu” tem um tanto de balanço e, ao mesmo tempo, de reflexão sobre a maturidade de seu cantar. Não por acaso começa a capella com Alguém cantando e termina com Força estranha, na qual mostra suas têmporas ao cantar o “cabelo branco na fronte do artista”. As duas canções são de Caetano Veloso, com quem ela gravou seu primeiro disco, Domingo.

Entre Alguém cantando e Força estranha, Gal se esmera em suas nuances interpretativas, num repertório que inclui muito do CD Todas as coisas e eu, dedicado ao cancioneiro brasileiro pré-bossa-nova. A sensualidade explosiva de outros tempos hoje é brejeiramente insinuada (com sucesso) em canções como Baião dos quatro toques, lindo baião metalingüístico de Zé Miguel Wisnik, Camisa amarela, Dama do cassino, Lá vem a baiana e Linda flor.

O show, porém, não é apenas a grandeza de Gal. “Caribantu”, bela canção de Lenine e Sergio Natureza, é o primeiro equívoco – a música perde força na versão de Gal e, com seu impacto percussivo, soa perdida num repertório com ares de clássico. O roteiro tem outros problemas, principalmente de ritmo. Exemplo: da alegria de “Lá vem a baiana” cai na circunspecção de “Ave Maria do morro”, sem escalas.

Como vem sendo há anos, Gal ainda deve um show (e um CD) à sua altura. Ainda não é Todas as coisas e eu.

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