Novo disco de Mônica Salmaso tem resgate de parceria

Em uma das clássicas tirinhas do criador de Peanuts, Charles Schulz, o personagem Schroeder, aquele garotinho que não desgruda do piano, sai de uma loja com um disco de vinil nas mãos e é abordado por Lucy, que pergunta: “O que é isso?”. Ele diz: “É um disco que vou ouvir”. Ela comenta: “Ah, você vai colocar o disco e ficar dançando?”. Contrariado, ele responde: “Não, eu vou ouvir.” Ela insiste: “Entendi, você vai colocar o disco e vai fazer outras coisas ao mesmo tempo?”. Mais uma vez, ele tenta explicar: “Não, eu vou sentar e ouvir.” Ao que ela, finalmente, responde: “Isso é uma das coisas mais ridículas que eu já ouvi na minha vida”.

Em tempos em que ouvir um disco apertando “skip” (o botão usado para pular de uma música para outra) ou fazendo outras coisas ao mesmo tempo virou a praxe, a cantora Mônica Salmaso cita o bem-humorado quadrinho de Schulz para falar de seu novo disco, Corpo de Baile.

O álbum é classificado por Salmaso como “um ET total”, no sentido do desafio de prender a atenção do ouvinte com a densidade de um repertório formado por canções inéditas, ou praticamente desconhecidas, de uma parceria que figura entre as maiores da música brasileira: Guinga e Paulo César Pinheiro.

Há mais de dez anos, Salmaso se encontrou com Guinga em um festival de Curitiba, onde ambos ministrariam workshops. Lá, depois de se apresentarem juntos para alguns alunos, o compositor e violonista comentou com a cantora sobre uma série de canções inéditas dele e de Paulo César Pinheiro. Admiradora dos dois, Salmaso conhecia algumas pérolas que resultaram daquela parceria, como Bolero de Satã (gravada por Elis Regina no disco Essa Mulher, de 1979) e Senhorinha (sucesso na voz de Ronnie Von como tema da novela Sinhá Moça, de 1986).

Encantada com a notícia, a cantora ligou para Paulo César Pinheiro. Tempos depois, ele disse que tinha preparado “um presente” para ela e a entregou um CD com canções dele e de Guinga, recuperadas por Pinheiro de fitas, e as letras datilografadas.

“Dei o maior vexame ao ouvir aquilo na casa do Paulinho e da Luciana Rabello (cavaquinista e compositora, casada com Paulo César Pinheiro). Eu me emocionei muitíssimo, não parava de chorar. E o Paulinho disse que eu podia fazer o que eu quisesse com aquele material, mas na época, como eu disse a ele, só queria ouvir, não tinha pretensão nem calibre para gravar aquilo”, diz a cantora.

O tempo passou e foi como se Salmaso estivesse se preparando, mesmo que inconscientemente, para um dia gravar o repertório. Neste meio tempo, ela construiu sua carreira com gravações elogiadas por público e crítica, e o disco com inéditas de Guinga e Paulo César Pinheiro seguia em modo de espera.

Ao longo dos anos, ela foi chamada por Chico Buarque para gravar Imagina (de Chico e Tom Jobim) no disco Carioca. Depois, lançou com o grupo Pau Brasil o álbum Noites de Gala, Samba na Rua, com composições de Chico, que rendeu uma longa turnê e um DVD. Na sequência, surgiu Alma Lírica Brasileira, que, além de ser gravado em disco, ganhou DVD com direção de Walter Carvalho.

Amadurecida e com uma carreira consolidada, Salmaso lança, depois de mais dez anos de espera, Corpo de Baile, com 14 canções de Guinga e Paulo César Pinheiro. Do repertório, seis músicas são inéditas. As outras, com exceção de Bolero de Satã, são pouco conhecidas e foram gravadas apenas no exterior ou em discos de pequena tiragem no Brasil.

“Eu já tinha gravado algumas canções dessa parceria em outros discos meus, mas, em vez de ficar gravando pingadinhas em discos diferentes, achei que era o caso de gravar agora num álbum para situar e dar a dimensão dessa parceria”, comenta Salmaso. “É algo muito especial, da qualidade de João Bosco e Aldir Blanc, Vinicius de Moraes e Tom Jobim, Vinicius e Baden”, completa.

Com a responsabilidade de apresentar um repertório de inéditas de uma parceria desse quilate, Salmaso se deu conta de que precisaria de um time variado de arranjadores e de formações instrumentais. “Fiz uma média que apresentei para a (gravadora) Biscoito Fino. Como eu tinha feito um disco mais enxuto, o Alma Lírica Brasileira (álbum que contou apenas com Salmaso, Nelson Ayres, no piano, e Teco Cardoso, nos sopros), era como se eu tivesse um lastro maior para propor um disco mais recheado, com mais gente. Eu precisava disso, de mais cores para que um arranjo não se sobrepusesse a outros”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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