A sequência mais perigosa de Caçadores de Emoção – Além do Limite, onde quatro pilotos de wingsuit (traje planador) atravessam um desfiladeiro estreito que corta os Alpes Suíços, foi registrada pelo dublê e operador de câmera Jhonathan Florez, morto no ano passado. Após trabalhar no remake da aventura eternizada por Keanu Reeves e Patrick Swayze, em 1991, o atleta colombiano de 32 anos sofreu acidente fatal na Suíça, em julho. Seu paraquedas não abriu depois de salto no monte Titlis, quando ele treinava para o campeonato mundial de wingsuit na China, no qual tinha sido campeão em 2013.
Dois meses antes de morrer, Florez contou ao Caderno 2, do jornal O Estado de S.Paulo, detalhes da cena em que precisou usar câmera de cinco quilos acoplada à cabeça. Em cartaz no Brasil, Caçadores de Emoção foi sua última colaboração no cinema. “Um piloto voando entre formações rochosas é uma coisa. Um voo múltiplo é outra, já que foi preciso sincronizar o movimento de todos. Se alguém se movesse de forma errada, acabaria roubando o ar de quem vinha atrás”, disse Florez, durante entrevista concedida na CinemaCon, a convenção anual dos exibidores de filmes em Las Vegas.
O primeiro Caçadores de Emoção, da diretora Kathryn Bigelow, foi o que, curiosamente, influenciou Florez a enveredar pelos esportes radicais. “Quando vi o original, fiquei impressionado com a cena de Patrick Swayze e Keanu Reeves saltando de paraquedas. Aí percebei que faria o mesmo em algum momento da minha vida. Não demorou muito até eu começar a praticar skydiving (salto de avião), depois basejumping (salto de montanhas, torres ou edifícios) e finalmente voo de wingsuit (usando macacão com asas)”, contou Florez.
Conhecido como “homem-pássaro”, o piloto chegou a realizar mais de 4 mil saltos de wingsuit. Um deles foi do Corcovado, no Rio de Janeiro. Em 2012, ele quebrou os recordes de voo de maior duração (com tempo de 9m6s), de maior distância percorrida (26,2 km) e de salto da maior altitude (11.358 metros). “No novo Caçadores, nós elevamos o nível do wingsuit como esporte, realizando façanha até então inédita com vários pilotos de uma vez naquele tipo de geografia”, afirmou Florez, lembrando que os atletas atingiram a velocidade de 257 quilômetros por hora na sequência, executada em seis semanas, com mais de 60 saltos.
Assinada por Ericson Core, a refilmagem foi concebida para radicalizar em vários esportes, assim como o título original fez. As sequências de paraquedismo e surfe rodadas por Bigelow foram consideradas insanas para a época, culminando com o personagem de Swayze na busca pela maior onda de todos os tempos, em praia da Austrália. Foi essa sede de adrenalina que marcou a geração dos anos 1990, instigando o imaginário dos cinéfilos de espírito aventureiro.
“Para ajustar o remake, fazendo justiça à evolução dos esportes radicais, nós trouxemos para a equipe os maiores atletas do mundo em várias modalidades”, disse Core, referindo-se a Florez e Jeb Corliss (wingsuit), Jon Devore (skydiving e wingsuit), Laird Hamilton (surfe), Louie Vito (snowboard) e Chris Sharma (alpinismo). Todos eles serviram de dublê ou operadores de câmera nas cenas mais ousadas. “Fomos atraídos pelo projeto pela intenção do diretor, de capturar algo mágico e, ao mesmo tempo, invisível. Ou seja, o que nos leva a arriscar nossas vidas por uma paixão”, contou Hamilton.
Exceto pelas acrobacias ainda mais espetaculares e por uma preocupação ecológica, pouca coisa muda na refilmagem. Utah (Luke Bracey) é um agente do FBI que, para investigar grupo de atletas radicais suspeito de assaltos, entra para gangue liderada por Bodhi (Edgar Ramirez). Novamente, o policial acaba seduzido pelo risco iminente, passando a questionar a sua filosofia de vida. “Mas há diferenças”, afirmou o diretor. “Enquanto os personagens do primeiro filme queriam dinheiro para cobrir suas despesas de viagem, aqui eles têm uma relação mais profunda com a natureza, roubando só as corporações que destroem o planeta”, completou Core. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.