Novidade na MPB (ou Pop? ou Rock?)

Chegou na redação o CD de um artista carioca – ator, músico, compositor, o que eles chamam de performer hoje em dia -, chamado Jay Vaquer (pronuncia-se Djei Véquer), Vendo a Mim Mesmo. À primeira vista parece um trabalho dirigido para a comunidade gay. As fotos, embora de excelente qualidade, beiram à apelação, e a mistura com os porcos parece ser um tico exagerada. Todavia, colocando-se o preconceito de lado, pesquisando o texto que acompanha o disco e, principalmente, ouvindo as faixas, qualquer um irá mudar de opinião. O cara é bom. Na self entrevista anexa, ele declara não querer aparecer ao ser fotografado pelado em tom artístico. E nem querer colocar o CD nas paradas graças ao visual. Vaquer afirma também que não é gay, que não está apelando, e que tudo se transforma depois de copiado, nada se cria. Ok. Mas vale também porque ele elimina uma série de rótulos que críticos e consumidores de música colocam nas pessoas, como o termo “americanizado”, por exemplo. “Raul Seixas cantava Elvis”, afirma. Sua relação com o espírito de porco (segundo ele um personagem da internet, mas talvez seu superego) é esclarecida em várias páginas no livreto que acompanha o CD.

O importante: a música é boa, bem produzida, letras fortes sem encher o saco, melodia, harmonia e ritmo que encucam. Ele se diz pop, como quase todo mundo. Pode ser. Poder também rock and roll, brasileiro, por causa das letras em portugês. Mas ferino como um rock caipira americano dos anos 70. Na quinta faixa, Samara Samádhi, ele canta “bem nos meus olhos e a visão nem pra distinguir direito, fica na nossa ficção, a lembrança de que foi perfeito. Justo quando era mais autêntico, praticamente idêntico, a tudo que já foi capaz de inventar”. A combinação da poesia com um ritmo acelerado e coerente à mesma é uma das fórmulas do rock em português que dá certo.

O álbum de Jay Vaquer, carioca, morando em São Paulo, passagens nos EUA, é uma pequena obra de arte para ser analisada e criticada – música, letras, entrevista, fotos – com mais atenção, pois de repente é uma novidade que não se via há mais de 20 anos no Brasil.

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