A produção é determinada pela demanda. Mais que uma máxima capitalista, essa é a perfeita tradução da relação entre uma novela e o tempo que ela fica no ar. Se faz sucesso, fica mais tempo no ar. Se fracassa, tem o número de capítulos reduzido. Em ambas situações, é sempre preciso que os autores disponham de recursos para não serem pegos de surpresa. Um caso de sucesso é Prova de Amor, da Record, que tem disputado a liderança na audiência quando se confronta com o Jornal Nacional, e já consolidou uma média em torno de 20 pontos. E por isso foi esticada. Para o autor Tiago Santiago isso significou correr contra o tempo para inserir novos personagens e subtramas na novela -os recursos mais usados pelos autores nessas situações. ?Trama que não é esticada é porque não está dando certo?, alfineta Tiago.
O caso de Bang Bang, porém, é mais grave. A novela das sete da Globo já enfrentou diversos percalços desde que estreou e vai ser encurtada. A trama de Mário Prata foi parar nas mãos de Márcia Prates quando o autor original passou a sofrer de tendinite. A coisa começou a desandar e Carlos Lombardi foi chamado para dar uma assessoria que de pouco adiantou. Depois de 45 dias, Lombardi ?devolveu? a novela para Márcia Prates, pois tem de cuidar de sua própria trama, provisoriamente batizada de Pé na Jaca. ?Entrei apenas para interromper a queda de audiência, combater a hemorragia?, compara Lombardi, que já teve de esticar diversas tramas, como Uga Uga, Kubanacan e Quatro por Quatro. ?Nunca encurtei nenhuma. E para aumentar o jeito é levar a história adiante. Se João e Maria casam, conto o que houve depois?, simplifica.
Para a autora Ana Maria Moretzsohn, o maior vilão que uma novela pode ter é estrear próxima ao horário de verão e perto de férias escolares, principalmente as do horário das seis. Segundo Ana, este foi o motivo que fez com que Sabor da Paixão fosse encurtada. Em contrapartida, há seis anos, quando assinou Esplendor, a autora se surpreendeu quando precisou alongar bastante a novela. ?Alongar, não! Eu dobrei a trama. Mas sou malandra. Tirei a Flávia Regina do coma. Se ela não fosse alongada eu simplesmente a mataria?, diverte-se, se referindo à personagem de Christine Fernandes.
Mas é quase impossível alongar uma que não tenha uma espinha dorsal resistente, com tramas fortes e personagens bem-construídos.
Caso contrário, ao ser esticada, ela pode desinteressar o público e perder audiência. Mas Walcyr Carrasco, autor de Alma Gêmea, não ficou nem um pouco preocupado com a notícia de que a trama será espichada. Para ele, é sempre uma vantagem para o autor. ?Estimula a criatividade. Se eu estivesse cansado, seria diferente. Mas não estou e gostei de saber que a novela vai crescer?, comemora Walcyr, que em 2000 teve de esticar O Cravo e A Rosa dos iniciais 100 para mais de 200 capítulos.
Em contrapartida, Marcos Lazarini, autor de Os Ricos Também Choram, que foi encurtada no SBT, assume que a diminuição de uma novela vem sempre acompanhada de um sentimento de frustração. ?Enxugar exige muito emocionalmente. É frustrante para as pessoas envolvidas, mas numa novela nunca faltam surpresas. Ela faturava bem e tinha público. Poderia ter voltado a dar dois dígitos?, acredita.
Mas nem sempre a decisão de prolongar uma trama tem relação com bons resultados no ibope. Muitas vezes ela é esticada por conta do atraso da novela substituta ou por precisar de mais tempo no ar para diluir os custos. Mesmo assim, para Antônio Calmon, o sentimento é sempre de vitória ao saber que uma trama será aumentada. ?Eu costumo anotar idéias desde a estréia para poder esticar, mas não tenho tantos trunfos, senão seria campeão mundial de xadrez?, brinca o autor, que garante que nenhuma trama sua foi encurtada até hoje. ?Jamais Começar de Novo foi diminuída. Um idiota anunciou isso na imprensa e essa calúnia prevaleceu na época?, desmente. Segundo Miguel Falabella, os mesmos boatos aconteceram com ele em A Lua Me Disse. ?A novela apenas era curta e assim se manteve. E olha que dava média de 32, muito melhor que Bang Bang?, dispara.