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Nova geografia de galerias se desenha no centro de SP

Na Rua Guaianases, 1.149, nos Campos Elísios, o casarão do início do século passado construído pelo cafeicultor e empresário Otaviano Alves de Lima, chama a atenção da comunidade do bairro do antigo centro de São Paulo. “Essa casa é uma loucura, o povo quer passear por ela, nos atormenta”, diz Rosângela, do lado de fora do portão, quando o jornal “O Estado de S. Paulo” começa a entrevistar, ainda no jardim, repleto de jabuticabeiras, Juliana Freire, sócia-fundadora da Galeria Emma Thomas, e Dirceu Neto, criador do projeto Lugar de Arte e Cultura Atemportal (L.a.c.a_), que vem transformando o imóvel de 2 mil m² em novo espaço cultural da cidade. “Mas sempre digo que tem guarda cuidando porque é perigoso ter invasão”, continua a mulher do dono da banca de jornais colada ao casarão, que, próximo da “cracolândia”, é remanescente da época dos barões do café.

“Já faz tempo que a gente não quer mais o cubo branco”, afirma a galerista Juliana Freire, de 38 anos. A Emma Thomas, assim como o Elemento Cultural, dedicado ao teatro, e, por ora, quatro bares, uma pista de dança e uma loja de produtos artesanais e orgânicos, vão integrar o L.a.c.a_, previsto para ser inaugurado no começo de novembro. Mas, enquanto isso, obras do artista Victor Leguy, de sua pesquisa Módulos Autônomos e Contínuos para o Abrigo da História Não Oficial, e de Antonio Lee e Angella Conte ocupam, desde setembro, cômodos do primeiro andar do nobre casarão neoclássico como forma de apresentar – “não oficialmente” e com visitação por meio de agendamento – a que será, agora, a quarta sede da galeria.

“Arrisco dizer que a casa ficou uns dez anos fechada”, conta Dirceu Neto, sócio de Luis Alves de Lima, da família de Otaviano, fazendeiro que também foi proprietário do jornal Folha da Manhã (hoje Folha de S.Paulo) entre a década de 1930 e 1941. “Estamos mantendo o imóvel com esse ar decadente; a gente quer essa memória; não vamos pintar as paredes de branco”, explica o diretor do L.a.c.a_. “Há uma crise do espaço de arte”, comenta Juliana Freire. “O artista que fizer uma exposição aqui já terá de partir do princípio que não terá um material neutro, que tudo vai dialogar com esse lugar”, explica a galerista. “Nos paradigmas que enfrentamos hoje no Brasil, não ter esse espaço do conforto é muito mais provocativo.”

Desde 2006, a Galeria Emma Thomas, que, atualmente, também subloca um espaço em Nova York, já esteve na Rua Augusta; compartilhou um galpão com a Galeria Maria Baró na Barra Funda; e funcionou em um imóvel na Rua Estados Unidos, nos Jardins. Mudar-se, agora, para os Campos Elísios, significa a aposta em uma nova experiência.

“Na Barra Funda, o minhocão era uma cicatriz que criava uma barreira invisível para as pessoas que moravam em Higienópolis”, conta a galerista. “As pessoas que querem vir para cá são mais investigativas; muitos colecionadores não conhecem a beleza desta região, a primeira área rica de São Paulo, um bairro planejado pelo (alemão Victor) Nothmann e pelo suíço (Fernando) Glete”, afirma Juliana Freire, referindo-se aos imigrantes que dão nome a alamedas próximas da Rua Guaianases.

Em termos de localização, a Galeria Emma Thomas foi mais ousada que a Galeria Jaqueline Martins, que acaba de inaugurar seu novo espaço em um antigo depósito na Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 443, na Vila Buarque – perto da Biblioteca Mário de Andrade. “O circuito no centro vem se formando bem devagar”, diz Jaqueline Martins, de 35 anos. “Estou em um lugar mais reservado, que está na borda, mas não no miolo”, completa.

Depois de funcionar por cinco anos em um imóvel de 90 m² na Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, em Pinheiros, a Galeria Jaqueline Martins ocupa agora um local de 600 m² construído em 1946. “O brasileiro e, principalmente, o paulistano, é muito conservador”, afirma a marchande, que preservou as características originais da antiga construção, cujas grandes vidraças são um destaque. “Será que o cliente não está enjoado de lugares tão branquinhos e arrumadinhos? Acho que cabe também às galerias estimular outra experiência para o colecionador”, opina Jaqueline, que representa artistas históricos e aposta em jovens criadores.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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