A nota de pesar pela morte do cineasta Carlos Reichenbach divulgada hoje pelo Ministério da Cultura foi criticada por artistas e fãs do diretor. Reichenbach morreu em São Paulo, na tarde de ontem, dia em que completou 67 anos. O cineasta sofre um infarto. O texto, divulgado no site do ministério e distribuído para a imprensa, contém erros de português. A ministra confundiu tachar com taxar e esqueceu vírgulas.
Além disso, a nota foi interpretada como de mau gosto e pejorativo ao dizer que o diretor “foi taxado (sic) como autor de filme marginal e da Boca do Lixo”. O crítico da Folha de S.Paulo, André Barcinski, publicou um texto em seu blog no site do jornal dizendo que a nota da ministra é “uma das declarações mais preconceituosas, desconexas e ignorantes” que ele já leu. Para Barcinski, o “foi taxado” implica quase num xingamento, como se “cineasta marginal” e “da Boca do Lixo” fossem estágios menores na carreira de um homem de cinema.
“”Menos usuais’ para quem, cara-pálida? Para a geração de Carlão, formada nos cineclubes e fora do circuito estatal de financiamento, a liberdade criativa da Boca do Lixo era a única opção. Ou foi, por um bom tempo. Aí vem a pior parte: “No entanto, apaixonado pelo cinema em sim, foi autor de obras-primas’. “No entanto’? O que isso quer dizer? Será que Ana de Hollanda quis dizer que “apesar de ser da Boca, ele era um ótimo cineasta?” Críticas à nota surgiram também no Twitter. “A “nota de pesar’ do MinC é tão quase grave quanto a morte do Carlão”, afirmou o ator José de Abreu no microblog.
“Que cretina essa Ana de Hollanda. Devia ser impichada por tanta ignorância com o Carlão. Que vergonha!”, protestou o escritor Ronaldo Bressane. “Sabe aquela nota de pesar que, em 6 linhas, consegue demonstrar completo desconhecimento de quem era o falecido? Pois é. Ana de Hollanda tem tanto preconceito de classe que só imagina “marginal’ e “Boca do Lixo’ como xingamentos, não como escolhas estéticas”, escreveu o professor e escritor Idelber Avelar. A reportagem entrou em contato com o Ministério da Cultura, mas até o momento não houve retorno.
Leia a íntegra da nota:
“Ministra Ana de Hollanda lamenta o falecimento do cineasta Carlos Reichenbach
A cultura brasileira acaba de perder o grande cineasta Carlos Reichenbach. Sentiremos sua falta. Um cineasta inquieto, vanguardista que, por trilhar caminhos menos usuais entre os cineastas tradicionais, foi taxado como autor de filme marginal e da Boca do Lixo.
No entanto, apaixonado pelo cinema em si, foi autor de obras-primas como Anjos do Arrabalde e Álma Corsária, entre outras.
Solidarizo-me com sua família, amigos e admiradores nesse momento de abatimento.”
