Leona Cavalli chega a se assustar com as coincidências que têm acontecido na sua trajetória como atriz. Há pouco mais de um ano, viajou para Manaus e, ao conhecer o Teatro Amazonas, achou que alguma produção dramatúrgica deveria contar a história da borracha. Mal colocou os pés na cidade de São Paulo e a atriz foi chamada pelo diretor Marcos Schechtman para viver a fogosa e licenciosa Justina em Amazônia De Galvez a Chico Mendes, na Globo. Além disso, sua primeira cena como a cortesã e dançarina de cancã foi justamente gravada no suntuoso Teatro Amazonas. ?Foi especial a forma que recebi esta personagem frágil, inocente e, ao mesmo tempo, tão esperta e interesseira?, derrete-se, com gestos tão delicados que a fazem lembrar uma frágil porcelana.
Na verdade, a alva personagem tem muito pouco de ingênua. Ela se faz passar por francesa na trama de Glória Perez para parecer mais sofisticada. Depois de trocar o nome Justina por Justine e fazer beicinho ao pronunciar palavras com um forçado sotaque francês, a cortesã mirou num alvo premiado do império da borracha: o Coronel Firmino, de José de Abreu. E, após virar sua amante, Justine logo engravida do todo-poderoso. Para compor a prostituta calculista, Leona se inspirou no glamour do filme Moulin Rouge, de Baz Luhrmann. ?Apesar da Justine dar o golpe da barriga, ela gosta dele e da situação que proporciona?, defende a atriz.
Nascida em Rosário do Sul, interior do Rio Grande do Sul, a atriz de 36 anos tem uma longa trajetória no teatro e no cinema. Alleyona Silva adotou o nome de Leona Cavalli, sobrenome que pegou ?emprestado? de seus padrinhos. Ela já conquistou importantes premiações no teatro, entre elas, o Prêmio Shell como melhor atriz de Toda nudez será castigada, de Nelson Rodrigues, na montagem de Cibele Forjaz, e melhor atriz no Prêmio Qualidade Brasil 2002 com Um bonde chamado desejo, adaptação da mesma diretora para a peça de Tennessee Williams.
Já no cinema, além de atuar em longas como Amarelo Manga, de Cláudio Assis, em 2003, e Olga, de Jayme Monjardim, do ano seguinte, levou a premiação de melhor atriz no Festival Internacional de Cinema de Las Palmas, na Espanha, por Contra todos, longa de Roberto Moreira, também de 2004. Ainda ganhou como melhor atriz por Um céu de estrelas, de Tata Amaral, no Festival Internacional de Cinema de Trieste, na Itália, em 1996. ?Orgulho-me de todos os filmes que fiz terem ganhado prêmios. Agora estou no tempo de descobrir e me aperfeiçoar na tevê?, avalia.
Leona estreou na telinha com participações em seriados como Os normais e A grande família, além de fazer uma breve aparição na novela Começar de novo, em 2004, como Lucrécia Borges, personagem de Eva Wilma, na juventude. Mas só ganhou um papel de maior destaque em 2005, quando interpretou a desmiolada Valdete, que tem um filho com Alberto, personagem de Alexandre Borges em Belíssima. ?A tevê tem sido muito instigante. Mas o que me move mesmo é minha obsessão pelo ser humano. Não escolhi ser atriz. Já nasci assim?, acredita.
As mais remotas lembranças de Leona vêm dos seis anos de idade, quando já atuava no teatrinho da escola. Certo dia, duas gêmeas de uma peça faltaram e Leona logo se prontificou a interpretar as personagens das irmãs no espetáculo amador. ?Meu pai não admitia que eu fosse atriz. Mas, aos 15 anos de idade, consegui ir para Londres e disse que só voltaria para o Brasil se ele me deixasse morar em Porto Alegre e estudar Teatro?, lembra, aos risos. Daí em diante, Leona pulou de palco em palco. Fez diversos cursos de interpretação até chegar em São Paulo, onde atuou na companhia de Zé Celso Martinez e interpretou seu primeiro grande papel: Ofélia em Hamlet, de William Shakespeare, com Alexandre Borges, Christiane Torloni e Júlia Lemmertz no elenco. ?Hoje todos estão na minissérie. Minha vida sempre foi feita de grandes encontros e coincidências?, comemora a atriz, que desconversa ao admitir que já acerta sua participação em uma próxima novela da Globo, ainda em sigilo.