No começo dos anos 1920, Charles Chaplin já estava em plena fase de seus clássicos mudos – Rua da Paz, O Balneário, O Aventureiro. Fundou, com David W. Griffith e o casal de atores Mary Pickford/Douglas Fairbanks, a United Artists, para garantir a independência autoral e financeira dos projetos de ambos.

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Viajou à Europa e, ao retornar, fez seu único filme em que não trabalha (embora sua silhueta apareças vagamente) – Casamento de luxo. Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, diz que é uma obra inovadora do ponto de vista da técnica, mas foi, na época, um raro fracasso de público de Chaplin.

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Sua importância permanece indiscutível, por mais que sua estética possa parecer ultrapassada. Para criar o movimento de Carlitos, Chaplin teve de pensar (e assimilar) os recursos tecnológicos que o filme projetado à razão de 16 quadros por seguindo. Teve de mudar para se adaptar aos 24 quadros (por segundo) do sonoro. Isso parece pouco, para um público de 2019, mas o cinema engatinhava e tudo o que esses pioneiros propunham – e dava certo – fazia avançar a linguagem. Movimentos de câmera, cortes, montagem, íris (aquele recurso de apagar a imagem e concentrar o foco num detalhe).

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Conta a lenda que Chaplin demorou meses, quase um ano, para resolver o impasse de uma cena decisiva de Luzes da Cidade. A cega, devido ao barulho da porta do carro, é induzida a crer que Carlitos é um milionário. Hoje em dia, parece o bê-a-bá da narração, mas em 1931 era uma invenção de gênio.

Carlitos é sua maior invenção. O homenzinho vulnerável, sempre perseguido pelo guarda, pelo capitalista, pela máquina. Tempos Modernos, de 1936, mostra como a automação produzida pela máquina engole o operário – na verdade, como suprime postos de trabalho. Chaplin sabia das coisas. A direita norte-americana não lhe perdoou haver tomado partido contra Adolf Hitler em O Grande Ditador, de 1940. A denúncia da guerra em M. Verdoux, em 1947, é a gota d’água. Ele é denunciado como antiamericano, comunista! A intolerância e o preconceito não são recentes.