É possível reinventar canções, tornando-as praticamente irreconhecíveis à primeira ouvida, mas soando tão encantadoras como na roupagem original de enorme sucesso popular? Há 11 anos a cantora britânica Norma Winstone prova que este milagre é possível. Mantém um trabalho refinadíssimo, em que sua voz é acompanhada apenas pelo piano de Glauco Vernier e os sopros de Klaus Gesing. O trio mistura composições originais com standards e melodias que lhes impactem os ouvidos, venham de onde vierem. Em 2003, gravaram o CD Chamber Music (Emarcy). Cinco anos depois, estrearam na ECM com Distances. Em 2010, alcançaram o zênite com uma obra-prima, o CD Stories Yet to Tell.
Agora emplacam outra gema, Dance Without Answer (U$ 10,99 no iTunes). Combina canções autorais com recriações de músicas muito conhecidas. Tem de tudo. De Madonna a Peter Gabriel e Tom Waits. Sem esquecer Erik Satie e os Muppets, numa extraordinária aventura musical inclusiva.
Um exemplo demolidor. Norma encantou-se com a versão de Caetano Veloso para a famosa Cucurrucucu Paloma. E, ao lado de Gesing e Vernier, transformou-a em autêntica canção de câmara, com direito a sutilezas como o retardo do andamento. Vernier inicia com acordes schubertianos e Norma degusta cada verso. No estribilho, a voz se encorpa graças aos finos comentários da clarineta de Gesing.
Um assombro. Em outra recriação surpreendente, It Might Be You, canção de Dave Gruisin para o filme Tootsie, Norma começa a capela e Gesing introduz monossílabos no registro mais grave do clarone, também conhecido como clarineta baixo.
A mágica se repete em Bein’ Green, tema dos Muppets; Live to Tell, de Madonna; e na manjadíssima Everybody’s Talkin, de Fred Neil, que ganhou o mundo como tema do filme Midnight Cowboy. A sequência de surpresas fecha com a famosa San Diego Serenade, de Tom Waits, sensacional dueto entre o clarone de Gesing e a voz afinadíssima de Norma Winstone.
De repente, não mais que de repente, duas incursões schumannianas no dialeto friuli nos levam à região italiana que faz fronteira com o Vêneto a oeste, com a Eslovênia a leste e com a Áustria ao norte. Glauco Vernier pôs música no poema Gust da Essi Viva, de Novella Cantarutti; e também na canção de ninar friuli A tor A tor. Duas vinhetas emocionantes: na primeira, Gesing brilha ao sax soprano; na segunda, excede no clarone. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.