O concerto da Osesp na última quinta-feira, 17, na Sala São Paulo comprova o raciocínio do compositor alemão Franz Waxman (1906-1967), já plenamente aculturado nos Estados Unidos, para onde emigrou em 1935 e fez música para filmes de Billy Wilder e Alfred Hitchcock, entre outros: “A música de concerto é cheia de segredos. Brahms revela-se lentamente. Para se chegar ao sentido de sua música é preciso estudo. A música dos filmes deve atingir seu objetivo imediatamente, porque é ouvida apenas uma vez, por um público despreparado, que não foi ao cinema propriamente para ouvir música. Creio em temas fortes, reconhecíveis à primeira audição e que podem ser repetidos e variados de acordo com as necessidades do filme. Mas essas variações devem ser expressivas, jamais complicadas”.
A frase permanece válida substituindo-se Brahms por Stravinski e Waxman por Tchaikovski. A sexta sinfonia deste último, que encerrou o programa, fez o público deixar a sala mesmerizado, alguns até assobiando vários dos lindíssimos temas que impressionam à primeira vista e pelos quais os ouvidos anseiam pelo seu retorno quantas vezes possível. A observação vale para a sinfonia inteira, mas sobretudo para dois temas irresistíveis: o do Allegro con grazia, uma deliciosa valsa em 5/4 que chega redonda aos ouvidos; e o scherzo, um Allegro molto vivace arrebatador. Até um casal à minha frente que insistia em namorar parou com os arrufos e fixou-se no palco na medida em que a marcha crescia e tomava a sala inteira.
A execução da Osesp foi muito boa, Marin Alsop estava em noite feliz. Cordas empenhadas derramando açúcar, madeiras sutis tecendo arabescos e os metais poderosos – tudo em excesso, como manda Tchaikovski, sempre expressivo, jamais complicado, atributos que Waxman aplica às trilhas sonoras.
Mesmo em pleno casamento com o neoclassicismo, o Stravinski da ótima Sinfonia dos Salmos exige escuta mais atenta. Na orquestração, estão ausentes os clarinetes, os violinos e violas; marcam presença os dois pianos e a harpa.
O coral misto, no concerto a cargo dos coros da Osesp, enuncia trechos dos Salmos 38, 39 e 150 escolhidos pelo compositor, àquela altura (1930) recém-convertido à igreja ortodoxa russa. A instrumentação diferente proporciona sonoridades originais, como os acordes iniciais cheios, incluindo os pianos, harpa e percussão. O Laudate Dominum final remete aos hinos da igreja russa. Uma performance bastante boa, com Alsop segura e os coros alertas.
Marcos Thadeu, regente do Coro Acadêmico e na Osesp há 18 anos, foi homenageado na abertura. Ele regeu o cativante “Miserere” de Allegri, compositor da capela papal no século 17, que alterna intervenções corais com o cantochão. Interpretações corretas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.